Gabriel Escobar se reuniu com o Itamaraty para discutir o tratamento dado aos deportados
30 de Janeiro de 2025 às 13h22

Diplomata dos EUA pede desculpas ao Brasil por deportação de brasileiros algemados

Gabriel Escobar se reuniu com o Itamaraty para discutir o tratamento dado aos deportados

O encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, pediu desculpas ao Itamaraty nesta quarta-feira (29) devido à recente deportação de brasileiros em condições consideradas degradantes. O pedido ocorreu durante uma visita ao Ministério das Relações Exteriores, onde Escobar tratou do episódio pela segunda vez na semana.

Escobar, que chegou ao Brasil recentemente, havia solicitado uma visita de cortesia à embaixadora Maria Luisa Escorel de Moraes antes do incidente. Na última sexta-feira (24), um voo com 88 brasileiros deportados aterrissou em Manaus, onde a Polícia Federal constatou que os deportados estavam algemados pelos pés e mãos, o que contraria os acordos entre os dois países.

Embora o Departamento de Estado não seja responsável pela operação dos voos de deportação, ele conduziu as negociações diplomáticas e consulares com o Brasil para garantir a aceitação dos deportados. O Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos EUA (ICE) é a agência encarregada da remoção de imigrantes ilegais.

O uso de algemas e correntes durante os voos é uma prática comum entre as autoridades migratórias dos EUA, mas o Brasil argumenta que essa abordagem não deve ser aplicada ao entrar em seu território. O Itamaraty emitiu uma nota afirmando que “o uso indiscriminado de algemas e correntes viola os termos de acordo com os EUA, que prevê o tratamento digno, respeitoso e humano dos repatriados”.

Durante a reunião, o ministro Mauro Vieira autorizou Escobar a discutir diversos assuntos e recomendou que a embaixadora transmitisse a insatisfação do Brasil em relação ao incidente. O governo brasileiro optou por utilizar canais diplomáticos e evitar uma escalada de tensões com a administração de Donald Trump.

A embaixadora destacou que o Brasil não vê os imigrantes como criminosos, mas sim como indivíduos que buscam melhores condições de vida. Ela reiterou que, mesmo que houvesse alguém com antecedentes criminais a bordo, essa pessoa ainda teria direito a um tratamento digno.

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Além disso, a secretária expressou preocupações sobre as condições do voo, que durou cerca de 15 horas, e mencionou problemas técnicos que ocorreram durante a viagem, incluindo paradas não programadas no Panamá e em Manaus, apesar do destino final ser Confins, em Minas Gerais.

O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, denunciou o uso de algemas, as condições inadequadas da aeronave e a revolta dos deportados pelo tratamento recebido. O Itamaraty enfatizou que considera inaceitável a falta de respeito às condições acordadas com o governo dos EUA.

Os deportados relataram dificuldades durante o voo, como o calor intenso devido a problemas no ar-condicionado, restrições ao consumo de água e dificuldades para usar o banheiro. Também houve relatos de agressões e ofensas por parte dos agentes de imigração dos EUA.

Escobar, que fala português e possui mais de 30 anos de experiência na diplomacia dos EUA, assumiu o cargo em Brasília no dia 21 de janeiro. Sua nomeação não foi uma escolha de Trump, mas parte da gestão de Joe Biden.

Embora já tenha indicado embaixadores para outros países da América Latina, Escobar ainda não nomeou um para o Brasil, o que pode demorar mais tempo, segundo fontes do Itamaraty.

A relação entre os presidentes Lula e Trump é marcada por um histórico de declarações adversas, e a possibilidade de um contato direto entre eles é considerada remota. O chanceler Mauro Vieira está aberto ao diálogo com o secretário de Estado, Marco Rubio, que é próximo ao espectro político bolsonarista.

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