Comunicado do Comitê de Política Monetária e dados fiscais impulsionam queda do dólar, que acumula 5,30% de recuo em janeiro.
30 de Janeiro de 2025 às 21h48

Dólar desvaloriza pelo 9º pregão consecutivo e fecha a R$ 5,85 após Copom

Comunicado do Comitê de Política Monetária e dados fiscais impulsionam queda do dólar, que acumula 5,30% de recuo em janeiro.

Após uma manhã de alta, impulsionada pela leitura do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), o dólar à vista apresentou uma significativa desvalorização ao longo da tarde, encerrando o pregão em queda de 0,23%, cotado a R$ 5,8528, após mínima de R$ 5,8523. Este foi o nono dia consecutivo de desvalorização da moeda americana no mercado brasileiro, totalizando uma queda acumulada de 5,30% apenas em janeiro.

A virada do dólar foi atribuída a ajustes técnicos, com a realização de lucros intraday, em meio a uma melhora no apetite ao risco após a divulgação de um déficit abaixo do esperado do Governo Central para 2024, que se alinha ao cumprimento da meta fiscal. O índice Ibovespa, por sua vez, chegou a registrar uma alta superior a 3%, enquanto as taxas de juros futuros, que já vinham em queda, recuaram mais de 40 pontos, situando-se abaixo de 15%.

Mais cedo, declarações do presidente Luiz Inácio da Silva, que reafirmou a busca pela responsabilidade fiscal e o respeito à autonomia do Banco Central, embora sem compromissos com novas medidas de contenção de gastos, já haviam contribuído para a diminuição do ímpeto do dólar.

Os negócios no mercado cambial foram amplamente guiados pela repercussão do comunicado do Copom. Como esperado, o colegiado decidiu aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual, elevando-a para 13,25%, e reiterou a promessa de um novo corte de 1 ponto na reunião de março.

Entretanto, o Copom não se comprometeu com uma redução da mesma magnitude em maio, mesmo diante da deterioração recente das expectativas de inflação, e mencionou a desaceleração da atividade econômica. Isso levou parte do mercado a especular sobre a possibilidade de encerramento do ciclo de aperto monetário em março ou, no máximo, em maio, com um ajuste residual.

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Marcos Weigt, head da Tesouraria do Travelex Bank, observou que o tom do Copom pode ter influenciado a alta do dólar no início da sessão, uma vez que alguns operadores classificaram o comunicado como dovish, ou seja, menos propenso a novas elevações nas taxas de juros.

“Houve uma zeragem de posição vendida em real muito grande nos primeiros cinco minutos do pregão. O volume foi gigante e o dólar se aproximou de R$ 5,95. Após esse fluxo, a moeda perdeu força, mas ainda assim o real apresentou desempenho inferior ao de outras moedas”, afirmou Weigt.

No cenário externo, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, operou em leve baixa ao longo do dia, mas atingiu terreno positivo por volta das 18h, após o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a imposição de tarifas de 25% sobre importações do México e Canadá a partir de 1º de fevereiro. Moedas emergentes e de países exportadores de commodities, que se valorizaram durante o dia, também inverteram a tendência no início da noite.

Ontem, o Federal Reserve decidiu manter a taxa básica entre 4,25% e 4,50%. A sinalização foi de que a política monetária está “bem posicionada” e que não há pressa em alterá-la. O presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, destacou que os juros estão significativamente acima do nível neutro, indicando que há espaço para retomar o processo de redução das taxas.

Para Weigt, a atratividade das operações de carry trade, devido à ampliação do diferencial entre os juros internos e externos, pode levar o dólar a recuar ainda mais no mercado local, com a possibilidade de romper o piso técnico de R$ 5,80.

“É difícil prever, mas há espaço para o dólar cair abaixo de R$ 5,80. É muito caro ficar comprado em dólar com os juros altos. Seria necessário um fluxo de notícias negativas para justificar a compra de dólares”, concluiu Weigt, que alerta que o real pode voltar a sofrer com a eventual aprovação da isenção de Imposto de Renda para quem ganha menos de R$ 5 mil, conforme prometido pelo governo Lula. “Essa é a próxima notícia negativa esperada pelo mercado, mas não deve ocorrer agora.”

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