
Meirelles avalia desconfiança do mercado sobre Lula como econômica, não política
Ex-presidente do Banco Central critica expansão fiscal e defende cortes de gastos no governo atual
O ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que a desconfiança do mercado financeiro em relação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está ligada a expectativas negativas sobre a economia brasileira, e não a preferências político-ideológicas. Em entrevista ao jornal Metrópoles, Meirelles destacou que a reação do mercado é resultado de preocupações com a expansão fiscal, a inflação e a incerteza sobre o compromisso do governo com o ajuste das contas públicas.
“O mercado não é um partido político. Ele não tem uma posição uniforme. Este é um erro de avaliação cometido por muitos políticos. O mercado é formado por gestores de todo o país, que tomam decisões com base no que acreditam que vai acontecer na economia, independentemente de julgamentos políticos”, afirmou Meirelles.
O ex-ministro da Fazenda também elogiou os esforços do atual titular da pasta, Fernando Haddad, em busca de um equilíbrio fiscal, mas ressaltou que ele enfrenta resistência de outros ministros que não estão dispostos a cortar gastos. “A grande dúvida é até que ponto o ministro conseguirá aplicar um regime de contenção de despesas”, disse Meirelles.
Meirelles alertou que o governo já tentou cobrir a expansão de despesas com aumento de impostos, mas lembrou que a carga tributária no Brasil já é uma das mais altas do mundo. “O caminho não é por aí. Terá que ser, necessariamente, por uma limitação de gastos”, completou.


Sobre a atual situação do Banco Central, Meirelles disse que Gabriel Galípolo “está indo bem” no comando da instituição, apesar das críticas do Partido dos Trabalhadores (PT) em relação à taxa de juros, que atualmente está em 13,25% ao ano. “O Banco Central sempre trabalha sob pressão, e o presidente da instituição tem de estar preparado para isso”, destacou.
Meirelles, que foi presidente do Banco Central durante os dois primeiros mandatos de Lula e ministro da Fazenda no governo de Michel Temer, reafirmou que a desconfiança do mercado é uma questão econômica e não política. “O mercado é composto por milhares de pessoas, não apenas meia dúzia de grandes fundos. O padeiro do interior da Bahia também faz parte do mercado”, enfatizou.
As declarações de Meirelles refletem um cenário de crescente preocupação entre os agentes econômicos, que observam com cautela as medidas do governo Lula e suas implicações para a economia brasileira. A expansão fiscal e a inflação são temas que, segundo ele, devem ser tratados com seriedade para evitar um agravamento da situação econômica.
O ex-presidente do Banco Central também comentou sobre a necessidade de um diálogo mais aberto entre o governo e o mercado, afirmando que a transparência nas decisões pode ajudar a restaurar a confiança dos investidores. “É fundamental que o governo mostre um compromisso claro com a responsabilidade fiscal”, concluiu.
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