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Bolívia vende ouro para garantir importação de combustíveis em crise econômica
Com a escassez de dólares, governo boliviano recorre à venda de ouro para subsidiar combustíveis e enfrentar dificuldades financeiras.
A Bolívia, diante de uma grave crise econômica, decidiu vender ouro no mercado internacional como estratégia para obter divisas e assegurar a importação de combustíveis, que são distribuídos a preços subsidiados no país. A informação foi divulgada pelo Ministério de Economia e Finanças nesta quinta-feira (6).
O ministro Marcelo Montenegro, responsável pela pasta, revelou que, ao longo de 2024, o Banco Central da Bolívia adquiriu 14,5 toneladas de ouro do setor de mineração, com o objetivo de revendê-las em resposta à escassez de dólares. Essa iniciativa visa garantir a continuidade dos subsídios.
Montenegro destacou que essa estratégia, apesar de não permitir um aumento significativo nas reservas, é crucial para a compra de combustíveis, como gasolina e diesel. Em entrevista à imprensa, ele afirmou: “Isso não nos possibilitou, provavelmente por ora, aumentar o estoque de reservas, mas sim que possamos comprar gasolina, comprar diesel.”
Historicamente, o governo boliviano utilizou suas reservas internacionais para financiar sua política de subsídios. Contudo, os recursos estão se esgotando rapidamente. Ao final de 2024, o Banco Central reportou reservas internacionais de 1,976 bilhão de dólares, das quais apenas 50 milhões eram consideradas “reservas líquidas”, ou seja, dinheiro disponível.
As vendas de gás, que anteriormente sustentavam esses fundos, caíram drasticamente, passando de 54,4% das exportações bolivianas em 2013 para apenas 18,8% em 2023, conforme dados oficiais.
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A escassez de dólares gerou um mercado paralelo, onde o valor da moeda americana disparou para 11,3 bolivianos. Em contraste, a taxa de câmbio oficial, que não está mais acessível ao público, é de 6,97 bolivianos por dólar.
Montenegro garantiu que as toneladas de ouro destinadas à comercialização não fazem parte das 22 toneladas que o Banco Central mantém em seu tesouro, conforme exigência legal.
Embora as operações de compra e venda do metal precioso contribuam para a importação de combustíveis, o ministro ressaltou que as exportações das empresas públicas também continuam a desempenhar um papel fundamental nesse processo.
José Luis Evia, ex-membro da diretoria do Banco Central da Bolívia, expressou preocupações sobre a sustentabilidade dessa medida, afirmando que “não é sustentável ao longo do tempo porque o ouro acaba, não há disponibilidade”.
Uma norma vigente obriga os produtores de ouro a vender ao Estado boliviano a mesma quantidade que exportam. No entanto, segundo Evia, muitos optam por comercializar exclusivamente no exterior, onde recebem em dólares, enquanto o governo paga em bolivianos, conforme a taxa de câmbio oficial, o que acaba prejudicando os produtores.
“Se você observar as exportações de ouro registradas, elas caíram fortemente. O que isso significa? Que provavelmente muitos estão retirando o ouro por contrabando e não vendendo ao Banco Central”, afirmou Evia à AFP.
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