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Criptomoeda promovida por Javier Milei é alvo de investigação por fraude
Governo argentino inicia investigação sobre criptomoeda após denúncias de golpe digital e queda brusca no valor do ativo.
O governo da Argentina anunciou, na noite do último sábado (16/02), a abertura de uma investigação urgente sobre a criptomoeda promovida pelo presidente Javier Milei. O ativo, que teve um aumento significativo em seu valor, despencou em poucas horas após uma série de denúncias de fraude e acusações de que poderia se tratar de um esquema de pirâmide.
A criptomoeda, chamada $LIBRA, foi divulgada por Milei em uma postagem nas redes sociais, onde ele afirmou que "o mundo quer investir na Argentina". A mensagem permaneceu fixada em seu perfil por mais de cinco horas e incluía um link para uma iniciativa denominada Projeto Viva La Libertad, que emula o slogan frequentemente utilizado pelo presidente.
De acordo com a publicação, a criptomoeda seria um "projeto privado" destinado a "incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenos negócios e startups". No entanto, economistas e especialistas em criptomoedas rapidamente levantaram preocupações sobre a legitimidade do ativo, sugerindo que poderia ser um golpe.
Após a avalanche de críticas, Milei apagou a mensagem e afirmou que não estava ciente dos detalhes do projeto, decidindo não continuar sua divulgação. Em um comunicado, o gabinete do presidente informou que, "à luz dos acontecimentos", ele encaminhou o caso ao Escritório Anticorrupção (OA) para investigar possíveis condutas impróprias por membros do governo, incluindo o próprio presidente.
Adicionalmente, foi criada uma Força-Tarefa Investigativa, encarregada de conduzir uma investigação sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA e todos os indivíduos ou empresas envolvidos na operação.
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Segundo a revista The Kobeissi Letter, especializada em mercado de capitais, quase 80% do ativo $LIBRA estava nas mãos de um pequeno grupo de investidores antes do apoio de Milei. Após sua divulgação, o valor da criptomoeda disparou, alcançando um pico de 4,978 dólares (cerca de R$ 29,7), mas logo caiu drasticamente.
O especialista em informática e influenciador digital Javier Smaldone, que se dedica a expor esquemas de pirâmide, explicou que o que ocorreu é conhecido como "tapete puxado". Ele descreveu o processo em que uma nova criptomoeda é criada e, após uma campanha publicitária, seu valor aumenta até que os responsáveis pela liquidez retirem o dinheiro, levando à queda do ativo.
Smaldone estima que a operação durou aproximadamente duas horas e envolveu um volume de cerca de 4,4 bilhões de dólares. Ele também mencionou que o valor que teria sido fraudado gira em torno de 107 milhões de dólares, podendo ser ainda maior.
Em resposta ao ocorrido, a oposição, liderada pelo bloco União pela Pátria, anunciou que apresentará um pedido de impeachment contra Milei. A ex-presidente Cristina Kirchner, uma figura proeminente do peronismo, criticou o presidente, chamando-o de "golpista de criptomoedas" e insinuando que ele estaria operando um "golpe digital".
O senador Martín Lousteau, do partido centrista União Cívica Radical (UCR), destacou que este é o segundo caso em que Milei promove ativos de criptomoedas que acabam se revelando fraudulentos. Em 2021, durante seu mandato como parlamentar, ele havia promovido a plataforma CoinX, que prometia lucros mensais de 8% em dólares e que também está sob investigação.
Ao longo do sábado, várias supostas vítimas do esquema começaram a se manifestar nas redes sociais. Entre elas, o influenciador americano Threadguy, que relatou ter perdido 250.000 dólares na criptomoeda, lamentando: "Hoje foi um dia difícil. O presidente da Argentina [...] nos enganou".
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