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Cientistas identificam novo coronavírus semelhante ao MERS em morcegos no Ceará
Pesquisadores brasileiros descobrem novo coronavírus em morcegos, relacionado ao MERS, que causou mais de 800 mortes desde 2012.
Uma equipe de pesquisadores de São Paulo, Ceará e da Universidade de Hong Kong anunciou a descoberta de um novo coronavírus em morcegos, o primeiro da América do Sul que apresenta relação próxima com o causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS, na sigla em inglês). O estudo foi publicado no Journal of Medical Virology.
O novo vírus foi detectado em amostras coletadas pelo Laboratório Central de Saúde do Ceará (Lacen), em Fortaleza. No total, foram identificados sete coronavírus em cinco morcegos, evidenciando a rica diversidade genética desses vírus na região. Os morcegos pertenciam a duas espécies: Molossus molossus, insetívoro, e Artibeus lituratus, frugívoro.
A pesquisa revelou que o novo coronavírus possui 71,9% de similaridade genética com o MERS-CoV, que foi identificado pela primeira vez em 2012 na Arábia Saudita e provocou mais de 800 mortes em 27 países. O gene responsável pela proteína spike, que permite a infecção em células de mamíferos, apresentou 71,74% de identidade com a spike do MERS-CoV isolado de humanos em 2015.
Bruna Stefanie Silvério, primeira autora do estudo e doutoranda na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), destacou que “ainda não podemos afirmar se esse coronavírus tem a capacidade de infectar humanos. No entanto, encontramos partes da proteína spike que sugerem uma possível interação com o receptor utilizado pelo MERS-CoV. Para investigar melhor, planejamos realizar experimentos em Hong Kong ainda este ano”.
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O professor Ricardo Durães-Carvalho, orientador de Silvério e coordenador do projeto de pesquisa, ressaltou a importância da vigilância epidemiológica contínua em morcegos, que são conhecidos reservatórios de vírus. “Esse monitoramento permite identificar os vírus em circulação e antecipar potenciais riscos de transmissão para outros animais e até mesmo para os humanos”, afirmou.
Os pesquisadores também mencionaram que, para verificar se a proteína spike do novo vírus pode se ligar às células humanas, serão necessários experimentos em laboratórios com alto nível de biossegurança, programados para ocorrer na Universidade de Hong Kong.
Além do novo coronavírus, os cientistas também identificaram um gemykibivirus em morcegos, um vírus emergente que já havia sido encontrado em humanos. Este vírus foi associado a várias condições médicas, incluindo HIV e sepse de origem desconhecida.
Os pesquisadores enfatizaram a necessidade de uma análise mais sistemática e integrada dos vírus emergentes, com a participação de diversos setores, para gerar dados que possam ser utilizados pelos sistemas de saúde no monitoramento e previsão de novas epidemias e pandemias.
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