Hospital é referência em aborto legal em São Paulo, que estava suspenso desde dezembro de 2023 pela prefeitura.
07 de Março de 2025 às 05h12

Justiça determina retorno do serviço de aborto legal no Hospital Vila Nova Cachoeirinha

Hospital é referência em aborto legal em São Paulo, que estava suspenso desde dezembro de 2023 pela prefeitura.

A Justiça de São Paulo anulou a decisão que havia suspendido o serviço de aborto legal no Hospital e Maternidade Municipal de Vila Nova Cachoeirinha, localizado na Zona Norte da cidade. A determinação, proferida nesta quarta-feira (5) pela juíza Simone Casoretti, da 9ª Vara da Fazenda Pública, obriga a prefeitura a restabelecer imediatamente o procedimento, embora ainda caiba recurso.

A suspensão do serviço ocorreu em dezembro de 2023, com a justificativa da gestão municipal de aumentar a capacidade para a realização de cirurgias no hospital. No entanto, a juíza Casoretti considerou que a interrupção do atendimento configurava uma violação aos direitos fundamentais das mulheres e um retrocesso social.

Em sua decisão, a magistrada destacou que o Hospital Municipal Vila Nova Cachoeirinha, que atuava há mais de 30 anos na área, era uma referência no atendimento a mulheres em situação de hipervulnerabilidade social. A juíza afirmou que a interrupção do serviço “configura ofensa ao princípio da proibição do retrocesso social”, que impede a reversibilidade dos direitos fundamentais, como a dignidade e a saúde das mulheres vítimas de abuso sexual.

A ação popular que resultou na decisão foi movida pela deputada federal Luciene Cavalcante, pelo deputado estadual Carlos Giannazi e pelo vereador Celso Giannazi, todos do PSOL, que contestaram a decisão da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. O Ministério Público e a Defensoria Pública também se manifestaram contra a suspensão do serviço.

Na sentença, a juíza ressaltou que o serviço de aborto legal era essencial para atender mulheres em situações vulneráveis e que não houve justificativa adequada para a interrupção. Segundo a prefeitura, a suspensão foi motivada pela necessidade de ampliar leitos e cirurgias ginecológicas e fetais, mas a Justiça entendeu que não foi comprovada a necessidade dessa reestruturação e que não foram apresentadas alternativas concretas para manter o atendimento.

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Além disso, a decisão citou que outros hospitais indicados pela prefeitura como alternativas não realizam abortos legais em gestações acima de 22 semanas, conforme constatado pela Defensoria Pública. A juíza também mencionou o aumento no número de casos de estupro no Estado de São Paulo, reforçando a necessidade da continuidade do serviço.

A prefeitura e a Secretaria Municipal de Saúde foram condenadas ao pagamento de R$ 10 mil em honorários advocatícios.

Em fevereiro do ano anterior, a prefeitura havia conseguido uma liminar em segunda instância que suspendeu três decisões judiciais que determinavam a retomada dos procedimentos de aborto legal no hospital. A suspensão do atendimento a pacientes com mais de 22 semanas de gestação foi determinada pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

O debate sobre o tema chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) e teve repercussões nas eleições municipais, com cobranças a Nunes durante a campanha. O espaço para um posicionamento da prefeitura em relação à decisão judicial que anulou a suspensão do aborto legal na unidade hospitalar segue aberto, mas até o momento não houve resposta.

O aborto legal é um procedimento de interrupção de gestação autorizado pela legislação brasileira, que deve ser oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ele é permitido em casos de gravidez resultante de estupro, quando há risco à vida da gestante ou quando há diagnóstico de anencefalia do feto.

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