Bolsonaro afirma que prisão seria o fim de sua vida e nega tentativa de golpe

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou que uma eventual prisão representaria o "fim da sua vida", ao afirmar que, aos 70 anos, considera a possibilidade "completamente injusta". Em entrevista à Folha de S. Paulo, publicada neste sábado (29), Bolsonaro comentou sobre as acusações que enfrenta, após se tornar réu em um processo que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022.

Os ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram, por unanimidade, aceitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e outros sete aliados, que são investigados por supostamente integrarem um núcleo central de uma trama golpista. As acusações incluem cinco crimes, cujas penas somadas podem ultrapassar 40 anos de prisão.

Questionado sobre o impacto de uma possível condenação em sua carreira política, Bolsonaro respondeu: "É o fim da minha vida. Eu já estou com 70 anos". Ele enfatizou que não vê justificativa para as acusações, indagando: "Cadê meu crime? Onde eu quebrei alguma coisa? Cadê a prova de um possível golpe? A não ser discutir dispositivos constitucionais que não saíram do âmbito de palavras".

Na entrevista, o ex-presidente admitiu ter conversado com aliados sobre a possibilidade de estado de sítio, estado de defesa e intervenção federal após sua derrota nas eleições de 2022. Contudo, garantiu que essas opções foram rapidamente descartadas. "Essas discussões não resultaram em qualquer decisão", afirmou.

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Bolsonaro também se referiu à delação de seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, negando ter solicitado fraudes relacionadas ao cartão de vacinação, afirmando que isso o desmoralizaria politicamente, uma vez que sempre foi contra a vacina, que considera um experimento.

O ex-presidente ressaltou que as conversas que teve com militares não passaram de discussões superficiais. "Nada com muita profundidade, porque quando você perde a eleição, você fica um peixe fora d'água", comentou, acrescentando que não houve intenção de dar um golpe.

Sobre a sua postura em relação ao resultado das eleições, Bolsonaro declarou que não se arrepende de não ter reconhecido a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Eu tinha meus questionamentos. Todo candidato faz isso quando ele vislumbra qualquer possibilidade. E eu jamais passaria faixa para ele, mesmo que tivesse dúvidas de nada", afirmou.

O ex-presidente criticou a condução das investigações, afirmando que não se pode simplesmente "olhar do lado e ver que apareceu estado de sítio". Ele também negou qualquer intenção de pedir asilo político nos Estados Unidos, afirmando que se sente bem e deseja o bem do Brasil.

Com a aceitação da denúncia pelo STF, será instaurada uma ação penal formal, dando início a uma série de trâmites legais, incluindo a oitiva de testemunhas de acusação e defesa. O ex-presidente, por sua vez, se disse preparado para enfrentar as acusações e aguardar o desenrolar do processo judicial.