Governo planeja justificativa para retomar obras da usina nuclear Angra 3
Retomada das obras da usina nuclear Angra 3 pode gerar 10 mil empregos diretos e movimentar R$ 21 bi
O governo federal, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está desenvolvendo uma estratégia de comunicação para justificar a retomada das obras da usina nuclear Angra 3, que se arrastam há décadas. A conclusão do projeto, que requer um investimento estimado em R$ 21 bilhões, é defendida por membros do governo, incluindo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Ainda que a decisão final sobre a retomada não tenha sido oficialmente anunciada, o tema já está sendo discutido internamente. A proposta inclui mais de dez justificativas para a continuidade das obras, destacando a importância da usina para a descarbonização do setor elétrico, a segurança energética e a geração de empregos.
Segundo as projeções do governo, a construção de Angra 3 poderá gerar cerca de 10 mil empregos diretos durante seu pico de atividade. Além disso, o governo argumenta que a obra movimentará um setor com um índice de nacionalização superior a 65%, o que traria efeitos multiplicadores significativos para a economia nacional.
O Palácio do Planalto fundamenta sua posição em um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), que aponta que cada R$ 1 investido na usina poderia gerar R$ 2,27 ao Produto Interno Bruto (PIB) do país. Essa análise é parte de um esforço mais amplo para ressaltar os benefícios econômicos da energia nuclear, que, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica, evita anualmente a emissão de quase 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono.
Além dos benefícios ambientais, o governo vê a usina como um fator crucial para aumentar a estabilidade do sistema elétrico, especialmente na região Sudeste. A proposta também considera o potencial aumento da demanda por urânio nacional e a tendência global de outros países investirem em energia nuclear.
A decisão final sobre a retomada das obras caberá ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que é composto por 17 ministros e presidido por Silveira. Um dos principais aspectos a serem considerados será o custo, que, segundo um estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), revela que o valor para desistir do projeto é quase equivalente ao de finalizá-lo. O custo para abandonar as obras pode ultrapassar R$ 21 bilhões, enquanto a conclusão da usina é estimada em cerca de R$ 23 bilhões.
O estudo do BNDES também indica que a tarifa necessária para cobrir o investimento em Angra 3 seria de R$ 653,31 por megawatt-hora (MWh), um valor que se mostra competitivo em comparação com as tarifas médias das usinas térmicas na região Sudeste, que giram em torno de R$ 665.
Conforme informações anteriores, a participação dos acionistas, que incluem a União e a Eletrobras, é um fator determinante na definição da tarifa de Angra 3. Alterações nos valores poderiam resultar em uma redução significativa no preço da energia para os consumidores, podendo cair para R$ 596 ou até R$ 251 ao longo dos 24 anos finais de operação da usina.
A discussão sobre a retomada das obras também é marcada por incertezas em relação ao futuro da Eletrobras, que atualmente precisa investir na construção, mas está em negociações com o governo para se desvincular dessa obrigação. A Eletrobras herdou a responsabilidade pelas obras após sua privatização em 2022, quando o controle da Eletronuclear foi transferido para a Empresa Nacional de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar).
As negociações com a Eletrobras estão sendo coordenadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Kassio Nunes Marques. Recentemente, a empresa anunciou que busca um novo acionista para assumir sua participação em Angra 3, o que poderá influenciar a continuidade do projeto.
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