Ibovespa registra queda de 2,74% e atinge menor nível em quase dois anos
O índice da bolsa brasileira fechou a sessão em 126.042 pontos, impactado por temores fiscais e alta da Selic.
O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, encerrou a sessão desta quinta-feira (12) com uma expressiva queda de 2,74%, atingindo 126.042 pontos. Este resultado marca o pior desempenho diário do índice em quase dois anos, refletindo a crescente preocupação dos investidores com o cenário fiscal do país e a recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic.
Durante o pregão, o índice chegou a registrar uma mínima de 125.829 pontos, após ter alcançado 129.587 pontos em sua máxima. A forte desvalorização dos ativos foi impulsionada pela percepção de que os riscos fiscais estão se intensificando, especialmente após a sinalização de que o governo pode não conseguir implementar um ajuste fiscal significativo.
A decisão do Copom de aumentar a Selic em 1 ponto percentual, elevando-a para 12,25% ao ano, também contribuiu para o pessimismo no mercado. Economistas avaliam essa medida como uma tentativa do Banco Central de restaurar a credibilidade da política monetária em meio a um cenário inflacionário desafiador. A expectativa é de que novos aumentos da taxa sejam anunciados nas próximas reuniões, o que pode levar a Selic a 14,25% até março de 2025.
O impacto da alta dos juros foi sentido em diversos setores, especialmente no varejo e consumo, que são tradicionalmente mais vulneráveis a aumentos nas taxas de juros. A ação da GPA, por exemplo, despencou 11,02%, refletindo a preocupação com cortes de pessoal em um dos períodos mais movimentados do ano. Outras ações do setor, como Carrefour e Petz, também apresentaram quedas significativas, de 8,59% e 10,55%, respectivamente.
O volume financeiro do Ibovespa alcançou R$ 20,8 bilhões, enquanto na B3, a bolsa brasileira, o total foi de R$ 26,8 bilhões. No exterior, as bolsas americanas também fecharam em baixa, pressionadas por dados econômicos que superaram as expectativas, contribuindo para um clima de incerteza nos mercados.
O dólar, que havia apresentado uma leve queda na manhã, reverteu a tendência e fechou em alta de 0,86%, cotado a R$ 6,00. A volatilidade da moeda reflete a percepção de que a alta dos juros pode atrair capital estrangeiro para a renda fixa brasileira, mas também gera incertezas sobre a capacidade do governo de implementar reformas fiscais necessárias.
Analistas destacam que a situação atual do mercado é complexa, com a combinação de juros altos e incertezas fiscais levando a um ambiente de investimento mais arriscado. O diretor de investimentos da Reach Capital, Ricardo Campos, observa que “o mercado está cético” e que a trajetória da dívida pública em relação ao PIB é uma preocupação crescente entre os investidores.
Além disso, a falta de clareza sobre as políticas fiscais do governo e a possibilidade de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busque a reeleição em 2026 aumentam a incerteza no mercado. Campos ressalta que “em momentos de dúvidas, o dólar acaba sendo a porta de saída” para muitos investidores.
Com a expectativa de mais aumentos na taxa Selic e a necessidade urgente de um ajuste fiscal, o cenário para a renda variável no Brasil se mostra desafiador. A combinação de juros altos e a falta de confiança nas políticas econômicas do governo podem levar a uma redução significativa no apetite por investimentos em ações, impactando diretamente o desempenho do Ibovespa nos próximos meses.
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