Parlamentares bolsonaristas protestam contra prisão de Braga Netto e ignoram investigações
General da reserva foi preso por tentar obstruir apuração sobre plano golpista que visava manter Bolsonaro no poder.
BRASÍLIA - Parlamentares alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro manifestaram-se nas redes sociais em protesto à prisão do general da reserva Walter Braga Netto, ocorrida na manhã deste sábado, 14. As manifestações desconsideraram as suspeitas levantadas pela Polícia Federal de que o militar teria coagido testemunhas durante as investigações.
Durante a manhã, deputados federais e senadores do Partido Liberal (PL) se pronunciaram, propagando a ideia de que o Brasil estaria enfrentando uma erosão democrática. Eles alegaram que a prisão de Braga Netto representa uma ofensa e uma humilhação às Forças Armadas, além de criticar a atual cúpula militar, que foi nomeada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A detenção de Braga Netto, que se tornou o primeiro general quatro estrelas a ser preso na era democrática do Brasil, está relacionada às investigações sobre a tentativa de golpe de Estado que se seguiu à vitória de Lula nas eleições de 2022. A operação que resultou na prisão do general contou com o apoio do Exército.
O general permanecerá sob custódia do Comando Militar do Leste e será mantido na Vila Militar, localizada na zona oeste do Rio de Janeiro. Sua defesa declarou, na semana passada, que ele “não tomou conhecimento de qualquer documento relacionado a um suposto golpe, nem do planejamento de assassinato de alguém”. Até o momento, não houve manifestação oficial sobre a prisão.
Ao determinar a prisão, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que existem “fortes indícios” de que Braga Netto teria contribuído de maneira significativa para o planejamento e financiamento da tentativa de golpe que visava manter Bolsonaro no poder. Contudo, os indícios contidos no relatório da PF, que resultou no indiciamento de Bolsonaro, Braga Netto e outras 38 pessoas, não foram mencionados nas declarações dos bolsonaristas neste sábado.
O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) afirmou que “a prisão de um general de 4 estrelas é prova irrefutável de que o golpe deu certo, o Brasil é uma ditadura”. O Capitão Alberto Neto (PL-AM) declarou que “assim como ocorre em ditaduras, o Brasil tem perseguido sua oposição”. A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) escreveu que “quem está sofrendo um golpe atrás do outro todos os dias é a democracia brasileira”. A decisão de Moraes foi tomada com o apoio do procurador-geral da República, Paulo Gonet, cuja escolha para o cargo foi elogiada por Kicis.
O deputado Éder Mauro (PL-PA) afirmou que “a prisão do general Braga Netto é mais um passo no processo de ‘venezuelização’ do Brasil”. Junio Amaral (PL-MG) considerou que se trata de “mais um capítulo da sanha autoritária que toma conta deste país”.
O deputado Sanderson (PL-RS) definiu a prisão de Braga Netto como “um tapa na cara das Forças Armadas do Brasil. Desmoralização total!”. O Coronel Chrisóstomo (PL-RO) afirmou que a reputação das Forças Armadas foi manchada e que “isso tem que parar. Estão sem limites! O mais alto cargo do Exército brasileiro sendo tratado desta forma!”. O senador Jorge Seif (PL-SC) acredita que a prisão tem dois objetivos: “pressioná-lo a delatar Bolsonaro de um crime que não existe e desviar a atenção de Lula no Sírio-Libanês. Fim!”.
O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), também general e ex-vice de Bolsonaro, elogiou o colega fardado, afirmando que “Braga Netto não representa nenhum risco para a ordem pública e a sua prisão nada mais é do que uma nova página no atropelo das normas legais a que o Brasil está submetido”. Para Bibo Nunes (PL-RS), que se disse surpreso com a prisão, o general “nunca incentivou golpe. Nunca. Ele é conhecido pelo bom senso, humildade e amor extremo ao Brasil”.
Braga Netto é suspeito de tentar obstruir a investigação sobre o plano golpista que visava manter Bolsonaro no poder. Em sua manifestação, a Procuradoria Geral da República (PGR) afirma que há provas suficientes de “autoria e materialidade dos crimes graves cometidos” e defende que o general representa “risco concreto à ordem pública e à aplicação da lei penal”.
“As medidas cautelares diversas da prisão não se revelam suficientes. Nesse contexto, a prisão preventiva requerida afigura-se como medida capaz de garantir a ordem pública, a aplicação da lei penal e a conveniência da instrução criminal, evitando-se a continuidade do esquema criminoso deflagrado e das interferências nas investigações, que seguem em curso”, diz o parecer.
Ao solicitar a prisão, a Polícia Federal apontou que Braga Netto teria financiado a ação dos oficiais das Forças Especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”, para assassinar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice, Geraldo Alckmin, em 2022.
Braga Netto teria entregado recursos aos golpistas em uma sacola de vinho, informação que foi repassada pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, em sua delação.
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