General da reserva foi preso por tentar obstruir apuração sobre plano golpista que visava manter Bolsonaro no poder.
14 de Dezembro de 2024 às 15h49

Parlamentares bolsonaristas protestam contra prisão de Braga Netto e ignoram investigações

General da reserva foi preso por tentar obstruir apuração sobre plano golpista que visava manter Bolsonaro no poder.

BRASÍLIA - Parlamentares alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro manifestaram-se nas redes sociais em protesto à prisão do general da reserva Walter Braga Netto, ocorrida na manhã deste sábado, 14. As manifestações desconsideraram as suspeitas levantadas pela Polícia Federal de que o militar teria coagido testemunhas durante as investigações.

Durante a manhã, deputados federais e senadores do Partido Liberal (PL) se pronunciaram, propagando a ideia de que o Brasil estaria enfrentando uma erosão democrática. Eles alegaram que a prisão de Braga Netto representa uma ofensa e uma humilhação às Forças Armadas, além de criticar a atual cúpula militar, que foi nomeada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A detenção de Braga Netto, que se tornou o primeiro general quatro estrelas a ser preso na era democrática do Brasil, está relacionada às investigações sobre a tentativa de golpe de Estado que se seguiu à vitória de Lula nas eleições de 2022. A operação que resultou na prisão do general contou com o apoio do Exército.

O general permanecerá sob custódia do Comando Militar do Leste e será mantido na Vila Militar, localizada na zona oeste do Rio de Janeiro. Sua defesa declarou, na semana passada, que ele “não tomou conhecimento de qualquer documento relacionado a um suposto golpe, nem do planejamento de assassinato de alguém”. Até o momento, não houve manifestação oficial sobre a prisão.

Ao determinar a prisão, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que existem “fortes indícios” de que Braga Netto teria contribuído de maneira significativa para o planejamento e financiamento da tentativa de golpe que visava manter Bolsonaro no poder. Contudo, os indícios contidos no relatório da PF, que resultou no indiciamento de Bolsonaro, Braga Netto e outras 38 pessoas, não foram mencionados nas declarações dos bolsonaristas neste sábado.

O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) afirmou que “a prisão de um general de 4 estrelas é prova irrefutável de que o golpe deu certo, o Brasil é uma ditadura”. O Capitão Alberto Neto (PL-AM) declarou que “assim como ocorre em ditaduras, o Brasil tem perseguido sua oposição”. A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) escreveu que “quem está sofrendo um golpe atrás do outro todos os dias é a democracia brasileira”. A decisão de Moraes foi tomada com o apoio do procurador-geral da República, Paulo Gonet, cuja escolha para o cargo foi elogiada por Kicis.

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O deputado Éder Mauro (PL-PA) afirmou que “a prisão do general Braga Netto é mais um passo no processo de ‘venezuelização’ do Brasil”. Junio Amaral (PL-MG) considerou que se trata de “mais um capítulo da sanha autoritária que toma conta deste país”.

O deputado Sanderson (PL-RS) definiu a prisão de Braga Netto como “um tapa na cara das Forças Armadas do Brasil. Desmoralização total!”. O Coronel Chrisóstomo (PL-RO) afirmou que a reputação das Forças Armadas foi manchada e que “isso tem que parar. Estão sem limites! O mais alto cargo do Exército brasileiro sendo tratado desta forma!”. O senador Jorge Seif (PL-SC) acredita que a prisão tem dois objetivos: “pressioná-lo a delatar Bolsonaro de um crime que não existe e desviar a atenção de Lula no Sírio-Libanês. Fim!”.

O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), também general e ex-vice de Bolsonaro, elogiou o colega fardado, afirmando que “Braga Netto não representa nenhum risco para a ordem pública e a sua prisão nada mais é do que uma nova página no atropelo das normas legais a que o Brasil está submetido”. Para Bibo Nunes (PL-RS), que se disse surpreso com a prisão, o general “nunca incentivou golpe. Nunca. Ele é conhecido pelo bom senso, humildade e amor extremo ao Brasil”.

Braga Netto é suspeito de tentar obstruir a investigação sobre o plano golpista que visava manter Bolsonaro no poder. Em sua manifestação, a Procuradoria Geral da República (PGR) afirma que há provas suficientes de “autoria e materialidade dos crimes graves cometidos” e defende que o general representa “risco concreto à ordem pública e à aplicação da lei penal”.

“As medidas cautelares diversas da prisão não se revelam suficientes. Nesse contexto, a prisão preventiva requerida afigura-se como medida capaz de garantir a ordem pública, a aplicação da lei penal e a conveniência da instrução criminal, evitando-se a continuidade do esquema criminoso deflagrado e das interferências nas investigações, que seguem em curso”, diz o parecer.

Ao solicitar a prisão, a Polícia Federal apontou que Braga Netto teria financiado a ação dos oficiais das Forças Especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”, para assassinar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice, Geraldo Alckmin, em 2022.

Braga Netto teria entregado recursos aos golpistas em uma sacola de vinho, informação que foi repassada pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, em sua delação.

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