Novo advogado de Braga Netto afirma que não há chance de delação premiada
Após a prisão do general Walter Braga Netto, seu novo defensor garante que a mudança não está relacionada a negociações de delação.
Quatro dias após a prisão do general Walter Braga Netto no inquérito que investiga um suposto golpe de Estado, um novo advogado assumiu sua defesa. O criminalista José Luís Oliveira Lima, que agora representa o ex-ministro, assegura que a mudança de defesa não está ligada à possibilidade de um acordo de delação premiada.
Em entrevista, Oliveira Lima enfatizou que um acordo de colaboração está fora de cogitação, afirmando: “O general não praticou crime algum, portanto não fará colaborações”. Segundo ele, Braga Netto não teria como implicar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou qualquer outro investigado, uma vez que não participou do plano de golpe. “O general Braga Netto é um democrata, não participou de nenhuma reunião golpista”, defendeu.
Na quarta-feira, 18, o advogado visitou Braga Netto no Comando da 1.ª Divisão de Exército, na Vila Militar, em Deodoro, no Rio de Janeiro. Oliveira Lima relatou que o general ficou surpreso e indignado com a prisão, e a primeira medida da defesa será solicitar um depoimento do ex-ministro para esclarecer pontos que considera relevantes.
Braga Netto foi preso preventivamente sob a acusação de tentar obstruir a investigação sobre o plano de golpe. A Polícia Federal (PF) alega que ele tentou obter informações sigilosas sobre a delação do tenente-coronel Mauro Cid para repassar a outros investigados e também alinhou versões com aliados.
A defesa nega qualquer interferência do general nas investigações. Oliveira Lima afirma que as acusações se baseiam exclusivamente na versão de Mauro Cid, que ele descreve como “um delator com credibilidade zero”.
Além disso, a PF indicou que Braga Netto teria financiado ações de oficiais das Forças Especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”, para assassinar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice Geraldo Alckmin em 2022. A acusação sugere que o general teria entregado recursos aos golpistas disfarçados em uma sacola de vinho, informação também atribuída a Mauro Cid em sua delação.
“É uma mentira essa acusação, o general nunca entregou dinheiro para financiar qualquer tipo de plano. É no mínimo curioso, para ser gentil, que oito meses depois, o colaborador, que já mudou de versão várias vezes, agora traga essa fantasiosa versão”, rebateu Oliveira Lima.
Braga Netto é um dos 40 indiciados pela PF por golpe de Estado, organização criminosa e abolição violenta do Estado de Direito. O ex-ministro foi citado 98 vezes no relatório do inquérito e é considerado uma “figura central” do plano golpista.
A investigação da PF também revelou a influência do general em uma campanha velada, mas agressiva, de pressão ao então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, para que este aderisse ao golpe.
Documentos apreendidos na sala dos assessores de Braga Netto indicam que ele teria utilizado uma apresentação em palestras em clubes militares para discutir a “evolução do relacionamento civil-militar no Brasil”, defendendo o “poder de pressão política” das Forças Armadas para “participar ativamente das decisões nacionais” e “ampliar o poder de influência na Esplanada”.
A defesa afirma que Braga Netto está esperançoso em provar sua inocência. “Ele quer esclarecer os fatos o mais rápido possível”, concluiu Oliveira Lima.
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