Galípolo desmente ataque especulativo e defende análise do mercado financeiro
Futuro presidente do Banco Central afirma que a alta do dólar não é resultado de manipulação coordenada
O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, desmentiu nesta quinta-feira (19) a narrativa de que a recente disparada do dólar no Brasil é fruto de um ataque especulativo coordenado pelo mercado financeiro. Em coletiva de imprensa, Galípolo enfatizou que a percepção de que o mercado atua como um bloco monolítico é equivocada e não reflete a complexidade das dinâmicas econômicas.
Durante a manhã, a moeda norte-americana atingiu a marca de R$ 6,301, mas, por volta das 12h05, apresentava uma queda de 1,75%, sendo cotada a R$ 6,157. O cenário de alta volatilidade no câmbio tem gerado preocupações, mas Galípolo acredita que a interpretação de um ataque coordenado não é a mais adequada para explicar a situação atual.
“Não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, como se fosse uma coisa só, que está coordenada em algum sentido. O mercado opera com posições contrárias, e a ideia de um ataque especulativo coordenado não representa bem o que está acontecendo hoje”, afirmou Galípolo, ressaltando que essa visão tem sido bem compreendida por membros do governo, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Galípolo, que assumirá oficialmente o cargo em 1º de janeiro, participou da coletiva ao lado do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O evento marcou a transição na presidência da instituição, que desde 2021 conta com autonomia institucional. Campos Neto, por sua vez, comentou sobre a atuação do Banco Central no mercado cambial, afirmando que a instituição interveio devido a “operações atípicas no volume que estão acontecendo”.
O atual presidente do BC destacou que o Brasil possui um nível elevado de reservas internacionais e que a autoridade monetária agirá sempre que julgar necessário. Ele também mencionou que os dividendos pagos pelas empresas estão acima da média, e que o fluxo financeiro do país apresenta um saldo negativo, com pessoas físicas retirando recursos do Brasil, inclusive através de plataformas digitais.
Nesta quinta-feira, o Banco Central realizou a venda de US$ 8 bilhões em dois leilões extraordinários de dólares no mercado à vista. Essa intervenção, não programada, foi a nona ação da autoridade monetária no câmbio em uma semana, totalizando injeções de US$ 20,7 bilhões desde a última quinta-feira (12).
Com a proximidade de sua posse, Galípolo reafirma seu compromisso em manter um diálogo aberto e transparente com o governo e o mercado, buscando compreender as nuances da economia brasileira e suas implicações para a política monetária.
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