A venda ocorreu em meio a forte repressão do governo de Maduro contra a oposição durante o pleito presidencial.
10 de Janeiro de 2025 às 08h49

Brasil exportou 20 mil frascos de spray de pimenta à Venezuela durante eleições em 2024

A venda ocorreu em meio a forte repressão do governo de Maduro contra a oposição durante o pleito presidencial.

A Venezuela adquiriu 20 mil frascos de spray de pimenta de empresas brasileiras às vésperas das eleições presidenciais de 2024, um movimento que gerou controvérsias em meio à crescente repressão do governo de Nicolás Maduro contra a oposição. A exportação do material, que é frequentemente utilizado para dispersar protestos, teve o aval do Exército Brasileiro e do Ministério da Defesa.

Dados obtidos indicam que os frascos foram enviados em dois carregamentos que partiram de São Paulo para Roraima, na fronteira com a Venezuela, em junho e julho de 2024. A compra coincide com um período de intensificação das tensões políticas no país, onde a oposição contestava a legitimidade do pleito e denunciava a fraude eleitoral.

O spray de pimenta é um produto comumente utilizado por forças de segurança em todo o mundo para controlar manifestações. Entretanto, sua utilização na Venezuela levantou preocupações sobre possíveis violações de direitos humanos, uma vez que o regime de Maduro tem sido acusado de reprimir violentamente os opositores.

Relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU) documentaram detenções arbitrárias e diversas violações de direitos humanos durante os protestos que se seguiram à declaração de vitória de Maduro, que foi contestada por muitos países, incluindo o Brasil. A oposição, liderada por Edmundo Gonzales, alegou que ele foi o verdadeiro vencedor das eleições, enquanto Maduro foi acusado de fraudar o processo.

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O governo da Venezuela, por sua vez, rejeitou as alegações de irregularidades e classificou os relatórios da ONU como tentativas de deslegitimar seu governo. A venda do spray de pimenta, realizada em um contexto de crescente repressão, chamou a atenção de especialistas em direitos humanos, que criticaram a decisão do Brasil de exportar tais produtos para um regime com histórico de abuso de poder.

O professor David Magalhães, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, destacou que a exportação de produtos de defesa deve ser cuidadosamente avaliada, especialmente em situações onde há risco de uso contra civis. Ele afirmou que a decisão de exportar spray de pimenta para a Venezuela, um país que enfrenta uma grave crise política e humanitária, é preocupante.

Além disso, a situação na Venezuela se agravou após as eleições, com relatos de prisões em massa e repressão a manifestações. Um relatório da Missão Internacional Independente da ONU revelou que centenas de pessoas, incluindo menores de idade, foram detidas arbitrariamente, e pelo menos 25 pessoas foram mortas durante os protestos.

O governo brasileiro, ao ser questionado sobre a exportação, afirmou que a transação ocorreu dentro das normas vigentes e que a responsabilidade pela venda recai sobre empresas privadas. No entanto, a falta de transparência sobre as empresas envolvidas na negociação e o contexto de repressão na Venezuela levantam questões sobre a ética e a legalidade da exportação.

Com a crescente pressão internacional sobre o regime de Maduro, a comunidade global observa atentamente as ações do Brasil e suas implicações nas relações diplomáticas na América Latina. A exportação de produtos de segurança para países com histórico de violações de direitos humanos continua a ser um tema sensível e controverso, exigindo uma análise cuidadosa das políticas de defesa e comércio exterior do Brasil.

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