Itamaraty classifica uso indiscriminado de algemas como inaceitável em deportações
Nota oficial do ministério destaca que o tratamento desrespeita acordos de repatriação firmados com os EUA.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, conhecido como Itamaraty, divulgou uma nota neste domingo (26) expressando sua indignação em relação ao uso indiscriminado de algemas e correntes durante a deportação de brasileiros pelos Estados Unidos. O governo brasileiro considera essa prática como uma violação inaceitável dos termos acordados entre os dois países para a repatriação de nacionais.
De acordo com a nota, os brasileiros deportados chegaram ao Brasil em um voo fretado pelo Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos EUA (ICE), e o tratamento que receberam foi classificado como “degradante”. A situação foi constatada quando a aeronave fez uma escala no aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus, onde as autoridades brasileiras perceberam que os deportados estavam algemados e acorrentados.
O Itamaraty ressaltou que, desde 2018, o Brasil havia concordado com a realização de voos de repatriação para reduzir o tempo de permanência de seus cidadãos em centros de detenção nos Estados Unidos, onde muitos enfrentam a deportação por imigração irregular. A nota afirma que o acordo previa um tratamento digno, respeitoso e humano para os repatriados.
“O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas”, diz o documento. Em resposta ao ocorrido, o Itamaraty informou que irá solicitar esclarecimentos ao governo dos EUA sobre o tratamento dispensado aos deportados.
A situação dos brasileiros deportados gerou preocupação e indignação, tanto entre os repatriados quanto entre as autoridades brasileiras. Os relatos de maus-tratos e o uso de algemas e correntes durante o voo levantaram questões sobre a adequação das práticas de deportação adotadas pelos Estados Unidos.
Além do uso de algemas, a aeronave enfrentou problemas técnicos, incluindo falhas no sistema de ar-condicionado, o que levou as autoridades brasileiras a não autorizarem o prosseguimento da viagem até Belo Horizonte. Os deportados foram obrigados a pernoitar em Manaus antes de embarcarem em um novo voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para completar o trajeto até a capital mineira.
O episódio ocorre em um contexto de endurecimento das políticas de imigração nos Estados Unidos, especialmente sob a administração do presidente Donald Trump, que tem promovido uma abordagem mais rigorosa em relação à deportação de imigrantes ilegais.
Os relatos dos deportados incluem experiências traumáticas, como agressões físicas e condições inadequadas durante o voo. Um dos deportados, Vitor Gustavo da Silva, de 21 anos, relatou: “Eles maltrataram a gente. Eles bateram na gente algemado e não tínhamos cometido crime. Estava muito calor”. Outro deportado, Luis Fernando Caetano Costa, mencionou que alguns passageiros foram agredidos durante a viagem.
O Itamaraty, por meio de sua nota, reafirmou seu compromisso em garantir a dignidade e os direitos dos brasileiros, tanto no exterior quanto em situações de repatriação, e seguirá atento às mudanças nas políticas migratórias dos EUA.
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