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Indústria do café alerta sobre produtos 'fake' em meio a alta de preços
Venda de produtos com 'sabor café' preocupa a Abic, que denuncia riscos à saúde e engano ao consumidor.
A indústria brasileira de café enfrenta um desafio crescente com a venda de produtos que, embora apresentem sabor de café, não contêm o grão verdadeiro. Este fenômeno ocorre em um cenário de preços recordes do café torrado e moído, que têm sido elevados nos supermercados devido a flutuações no mercado global.
O chamado "cafê fake" ou "cafake" tem gerado preocupações significativas, conforme destacou o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio da Silva. Em entrevista, ele afirmou que a comercialização desses produtos é uma "clara e evidente tentativa de burlar e enganar o consumidor".
Recentemente, a Abic identificou a presença de pó com sabor de café em Bauru, interior de São Paulo. Este produto, que pode ser feito a partir de cascas, palha, folhas e outras partes da planta, exceto a semente do café, traz na embalagem a descrição "bebida sabor café tradicional".
Embora a embalagem possa sugerir que o produto não é o café verdadeiro, Silva alertou que o consumidor pode ser facilmente enganado, especialmente porque o custo é significativamente menor do que o do café tradicional. Atualmente, meio quilo do produto "sabor café" está sendo vendido por R$ 13,99, enquanto o café tradicional custa em média R$ 30.
O preço do café arábica, que é negociado na bolsa de Nova York, atingiu uma máxima histórica, chegando a 3,8105 dólares por libra-peso. Essa alta é atribuída a uma série de fatores, incluindo uma safra frustrante no Brasil, o maior produtor e exportador de café do mundo.
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A pressão sobre os preços tem levado a indústria a repassar os custos para os consumidores, criando um ambiente propício para a venda de produtos "fakes". Silva comentou sobre a situação: "Estamos passando por um momento de muita tensão. Desde a geada de 1979, não vi preços tão elevados. Isso torna a matéria-prima cada vez mais disputada, e os industriais que compram a matéria-prima a esses preços altos acabam repassando esses custos".
A Abic expressou preocupação com a possibilidade de que outros produtos "fake" possam surgir no mercado, levando a um aumento na confusão entre os consumidores. A entidade já denunciou a situação ao Ministério da Agricultura e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ressaltando que a saúde dos consumidores está em risco, além da questão mercadológica.
Silva enfatizou que é necessário ter autorização da Anvisa para a comercialização de produtos alimentícios, e que a Abic já alertou o setor supermercadista sobre a inadequação da venda de produtos que não atendem a esses padrões.
"O supermercadista é corresponsável pelo produto que vende. Ao oferecer produtos mais baratos, ele pode estar cometendo um crime", afirmou.
Essa não é a primeira vez que a Abic detecta a presença do "cafake" no mercado. No entanto, desde 2022, a entidade não havia registrado a venda desse tipo de produto. Silva lembrou que a comercialização de produtos com sabor de café contraria as iniciativas da Abic, que anteriormente lançou um selo de pureza para evitar a venda de grãos misturados com milho torrado, por exemplo.
Ele finalizou alertando que, se não houver um combate efetivo a essa prática, os consumidores podem começar a associar o "cafê fake" com a experiência de beber café, o que pode levar a uma diminuição no consumo de café verdadeiro.
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