Indústria alerta sobre riscos de engano ao consumidor com produtos não tradicionais.
02 de Fevereiro de 2025 às 15h46

Venda de produtos com sabor de café gera preocupação na indústria brasileira

Indústria alerta sobre riscos de engano ao consumidor com produtos não tradicionais.

A comercialização de produtos que imitam o sabor do café, mas que não são feitos do grão tradicional, tem gerado grande preocupação na indústria brasileira. O alerta vem em um momento em que o preço do café torrado e moído verdadeiro atinge valores elevados nos supermercados, impulsionado por recordes nas cotações do mercado global.

O chamado "cafê fake", também conhecido como "cafake", é visto como uma "clara e evidente tentativa de burlar e enganar o consumidor", conforme afirma Celírio Inácio da Silva, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Em entrevista, ele destacou que a Abic identificou a venda desse tipo de produto em Bauru, interior de São Paulo, onde o pó é feito a partir de cascas, folhas e outras partes da planta, exceto a semente do café.

Um dos produtos em questão, denominado Oficial do Brasil, exibe em sua embalagem a frase "bebida sabor café tradicional", o que, segundo Silva, pode confundir os consumidores. Apesar de haver indicações de que não se trata de café torrado e moído, a similaridade da embalagem e o preço inferior podem levar à desinformação.

Recentemente, o café arábica atingiu uma máxima histórica na bolsa de Nova York, alcançando 3,8105 dólares por libra-peso. Essa alta é reflexo de uma safra frustrante no Brasil, que é o maior produtor e exportador de café do mundo, entre outros fatores de mercado.

A fabricante do Oficial do Brasil, a Master Blends, com sede em Salto de Pirapora (SP), defende que seu produto é um "subproduto" do café, conforme esclarecido na embalagem. A empresa nega qualquer intenção de enganar os consumidores, afirmando que nunca alegou que o produto é café puro.

“Em momento algum falamos que é café, criamos apenas um subproduto para atender uma classe que está sofrendo a cada dia que passa”, disse a Master Blends em nota. A empresa destaca que o produto é composto de café e polpa de café torrado e moído, com informações claras na embalagem.

A Master Blends também comparou sua situação a outros setores, mencionando que o que foi feito é semelhante a mudanças já observadas em produtos como leite condensado e bombons com cobertura de chocolate.

Desde o ano passado, a indústria de café torrado e moído tem repassado os custos da matéria-prima aos consumidores. A alta nos preços tem criado um ambiente propício para a comercialização de produtos "fakes", segundo Silva.

- CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE -

“Estamos passando por um momento de muita tensão. Nunca vi preços tão elevados desde a geada de 1979. Isso faz com que a matéria-prima fique cada vez mais disputada e os industriais que adquirem a matéria-prima com esses preços vão repassar esses custos”, explicou.

A Abic expressou preocupação com a possibilidade de surgimento de novos produtos "fake" e já denunciou a situação ao Ministério da Agricultura e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), devido a questões de saúde e mercadológicas.

“É preciso ter autorização da Anvisa e comprovar a segurança alimentar”, afirmou Silva, ressaltando que a Abic já alertou o setor supermercadista sobre a inadequação desses produtos no mercado.

A Master Blends, por sua vez, afirma que possui a autorização da Anvisa para comercializar seu produto, e que não necessita do aval do Ministério da Agricultura.

De acordo com informações da coluna "Café na Prensa", publicada na sexta-feira pelo jornal Folha de S.Paulo, meio quilo do produto "sabor café" está sendo vendido em supermercados por 13,99 reais, um valor significativamente inferior à média do café tradicional, que gira em torno de 30 reais.

Essa não é a primeira vez que a Abic detecta a presença do "cafake" no mercado. No entanto, a entidade não registrava a venda de produtos com sabor de café desde 2022, conforme relatou um executivo da associação.

O dirigente da Abic também lembrou que a comercialização desses produtos contraria iniciativas da entidade, que anteriormente lançou um selo de pureza para evitar a venda de grãos moídos misturados com milho torrado, por exemplo.

“O Brasil mostrou que café não é tudo igual. Se não combatermos isso, as pessoas podem começar a consumir esse 'café' e afirmar que não gostam, o que pode levar à diminuição do consumo”, concluiu.

Veja também:

Tópicos: