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Silvio Almeida refuta acusações de assédio e critica Anielle Franco por intrigas
Ex-ministro dos Direitos Humanos nega importunações e afirma que Anielle se perdeu em um personagem político.
BRASÍLIA – Em sua primeira entrevista após a demissão do governo Lula, o ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida negou categoricamente as acusações de assédio sexual feitas pela ministra Anielle Franco, que ocupa o cargo de ministra da Igualdade Racial. Almeida refutou as alegações em uma conversa publicada pelo UOL, um dia antes de prestar depoimento à Polícia Federal em Brasília, no âmbito de um inquérito que apura o caso sob sigilo judicial.
Durante a entrevista, Almeida afirmou que tanto ele quanto Anielle foram vítimas de uma “armadilha” política, destacando que as acusações não passam de “fofocas” que visam desestabilizá-lo. “Acho que ela caiu numa armadilha, a falta de compreensão de como funciona a política — a armadilha em que eu caí também. Não prestei atenção em coisas em que deveria ter prestado mais atenção. Ela, da mesma forma. Ela se perdeu num personagem”, declarou Almeida.
O ex-ministro sugeriu que Anielle teria participado da disseminação de intrigas para desgastá-lo politicamente, afirmando que o objetivo seria minar sua credibilidade e espaço em círculos influentes do Rio de Janeiro e da academia. “Para tentar me desgastar, ela participou desse espalhamento de fofocas e intrigas sobre mim. O objetivo talvez fosse minar minha credibilidade, tirar meu espaço em certos círculos da elite carioca, da academia, com pessoas ligadas ao sistema de justiça. Me queimar”, prosseguiu.
Almeida também comentou sobre a gravidade da situação, afirmando que a crise gerada pelas denúncias teve um impacto significativo no governo. “Essa fofoca se tornou objeto de interesse do jornalismo. Isso se tornou um caso de interesse das autoridades policiais. E foi hipotecada uma crise enorme para o governo. Ela perdeu o controle da narrativa”, afirmou.
Questionado sobre as acusações de Anielle Franco, que alegou que a importunação sexual começou durante a transição entre a eleição e a posse de Lula, Almeida negou que tenha havido convivência significativa entre eles nesse período. “Eu tinha uma série de conferências pré-agendadas na Europa e coordenei o trabalho online”, explicou, ressaltando que o contato com Anielle foi mínimo.
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O ex-ministro também desmentiu veementemente ter feito “sussurros eróticos” ou ter tocado a perna de Anielle durante uma reunião. “É óbvio que não. Imagine uma reunião em que estão dois ministros. Eu, sentado, na lateral da mesa; a ministra sentada na ponta, outras pessoas sentadas, o presidente da Anac, e logo na minha frente o diretor geral da Polícia Federal”, comentou Almeida, enfatizando que a reunião em questão tratava de casos de racismo nos aeroportos.
Almeida relatou um episódio em que houve uma divergência de opiniões com Anielle durante a reunião, descrevendo-a como “extremamente deselegante”. “Surgiu uma divergência entre o que eu propunha e o que a ministra propunha. Entretanto, ela foi extremamente deselegante. Comecei a dar opiniões e, em determinado momento, ela pega meu braço e fala: ‘Em todo lugar você quer dar aula. Aqui não é lugar de dar aula’”, relatou.
O ex-ministro também se manifestou sobre as acusações feitas por Isabel Rodrigues, professora que alegou ter sido apalpada por ele. Almeida expressou surpresa com a denúncia, sugerindo que a professora poderia estar usando a situação para alavancar sua candidatura a vereadora em 2022. “Achei esquisito. E incongruente em relação às atitudes que teve comigo há pouquíssimo tempo”, disse.
Sobre as acusações de assédio que surgiram em setembro de 2024, Almeida reiterou que nunca houve qualquer denúncia formal durante seus 20 anos de carreira como professor. “Quando comecei a dar aula, um amigo disse: ‘Você é jovem, é um homem negro, se cerque de cuidados’. Por isso trabalho com assistentes. Tive, aproximadamente, 40 mil alunos. Em todas as universidades que passei, isso está dito de maneira oficial, nunca tive nenhum tipo de acusação”, afirmou.
Almeida, que foi demitido por Lula em decorrência das denúncias, negou ter ficado decepcionado com o presidente, afirmando que Lula foi levado a uma situação incontornável. “Ele não tinha alternativa”, disse. O ex-ministro expressou indignação com as acusações e afirmou que todas as pessoas que se referem a ele de maneira negativa serão responsabilizadas.
“E estuprador? Nenhuma das supostas denúncias fala a respeito disso. Isso é coisa de gente má, perversa, canalha. Foi uma experiência de muito sofrimento. Primeiro vem a tristeza, depois a indignação. Estou indignado”, concluiu Almeida, que afirmou ter permanecido em silêncio por cinco meses para entender a situação e cuidar da família.
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