Economistas e líderes políticos defendem que a colaboração entre governo e setor privado é crucial para a formação de habilidades no novo mercado de trabalho.
08 de Fevereiro de 2025 às 15h16

Inteligência artificial pode eliminar empregos, mas inclusão é essencial para mitigar impactos

Economistas e líderes políticos defendem que a colaboração entre governo e setor privado é crucial para a formação de habilidades no novo mercado de trabalho.

A rápida evolução da inteligência artificial (IA) em diversos setores da economia gera incertezas sobre seu impacto no mercado de trabalho. Embora a tecnologia possa resultar na eliminação de vagas, especialistas sugerem que o foco deve ser na busca de soluções que assegurem uma distribuição equitativa dos benefícios gerados por essa revolução digital.

Durante a Global Labor Market Conference (GLMC), realizada na semana passada em Riad, na Arábia Saudita, a discussão se concentrou em termos como “upskilling” e “reskilling”, enfatizando a importância de preparar a força de trabalho para as novas demandas. A ideia central é que tanto os governos quanto o setor privado precisam colaborar para investir na formação de habilidades que serão essenciais no futuro.

Glossário do novo mercado de trabalho:

  • Upskilling: Aperfeiçoamento de habilidades já existentes na função atual do trabalhador, evitando mudanças bruscas na carreira.
  • Reskilling: Treinamento em novas habilidades para substituir as que estão se tornando obsoletas, capacitando o trabalhador para novas funções.
  • Foreverskilling: Termo introduzido na conferência, refere-se ao desenvolvimento de um treinamento adaptável que prepare o trabalhador para qualquer demanda futura.

O professor James Robinson, da Universidade de Chicago e vencedor do Nobel de Economia, destacou a necessidade de um diálogo sobre como tornar a IA mais amigável ao trabalhador, enfatizando a importância de aumentar a produtividade sem depender exclusivamente da substituição de pessoas por máquinas. “Não acho que haja uma receita clara para isso, mas precisamos começar uma conversa sobre como tornar a IA amigável ao trabalhador”, afirmou.

Robinson também previu que a IA transformará a economia de maneira mais rápida do que a Revolução Industrial do século XVII. Ele comparou a velocidade de adoção de novas tecnologias, citando que o Twitter (atualmente conhecido como X) levou quase dois anos para alcançar um milhão de usuários, enquanto o ChatGPT conseguiu isso em apenas alguns dias.

A pesquisa realizada durante a conferência revelou que o ritmo acelerado das transformações é uma fonte de angústia para trabalhadores em todo o mundo. Entre os 14 mil participantes consultados, as mudanças tecnológicas foram identificadas como o principal fator que deve orientar as estratégias de qualificação profissional.

- CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE -

Desafios persistentes:

Entretanto, a nova era tecnológica enfrenta desafios econômicos antigos. Muitos participantes da pesquisa apontaram limitações financeiras como um obstáculo significativo para a formação tecnológica necessária, especialmente em países como Brasil, Jordânia, Nigéria, África do Sul e Vietnã. Essa disparidade reflete a menor renda disponível nessas economias em comparação com países como os Estados Unidos e na União Europeia, onde a questão do acesso financeiro foi considerada menos relevante.

Para superar esses desafios, é fundamental adotar uma estratégia robusta que envolva diferentes setores da sociedade, segundo Enrico Giovannini, ex-ministro do Trabalho da Itália. “A única maneira de tentar reduzir não apenas o desemprego, mas também as desigualdades, é através de políticas sociais e econômicas que não deixem nenhum grupo para trás”, defendeu Giovannini, que também é professor na Universidade de Roma.

Ele argumentou que as autoridades devem desenvolver programas que redirecionem a força de trabalho para atender às necessidades futuras, como a adaptação das cidades às mudanças climáticas. Giovannini também ressaltou a importância de avaliar o cenário com novas métricas, além dos indicadores econômicos tradicionais, para não perder de vista as transformações em curso.

Christopher Warhurst, diretor do Instituto de Pesquisa de Emprego da Universidade de Warwick, complementou que a IA, por si só, não será capaz de gerar os ganhos de produtividade esperados. “Para que novas tecnologias entreguem os ganhos de produtividade, elas precisam ser adequadamente geridas, com trabalhadores envolvidos na introdução, uso e distribuição”, afirmou.

O debate sobre o futuro do trabalho e o papel da inteligência artificial na economia continua em pauta, com a necessidade de uma abordagem inclusiva e colaborativa entre todos os setores da sociedade.

Veja também:

Tópicos: