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Rei da Jordânia aceita receber crianças palestinas após pressão de Trump
Durante reunião em Washington, rei Abdullah II se comprometeu a acolher duas mil crianças doentes de Gaza.
O rei Abdullah II da Jordânia anunciou nesta terça-feira (11) que está preparado para receber duas mil crianças gravemente doentes provenientes de Gaza. A declaração foi feita durante uma reunião em Washington com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que pressionou o monarca a acolher a maioria dos habitantes do território palestino, estimados em cerca de 2,4 milhões de pessoas.
Trump, que elogiou a decisão do rei, descreveu-a como “um belo gesto” enquanto se encontrava ao lado de Abdullah e do príncipe herdeiro Hussein no Salão Oval da Casa Branca. O plano do presidente americano para Gaza envolve a transformação do território em uma vasta zona de desenvolvimento imobiliário sob controle dos EUA, o que gerou uma onda de indignação internacional.
Além disso, Abdullah II informou que o Egito está elaborando um plano de cooperação com os Estados Unidos, que será discutido na Arábia Saudita. “Vamos aguardar até que os egípcios possam apresentar esse plano ao presidente norte-americano”, afirmou o rei.
Durante a reunião, Trump insinuou que poderia interromper a ajuda dos EUA à Jordânia caso o país não aceitasse os palestinos deslocados, mas adotou um tom mais conciliador, afirmando que não era necessário “ameaçar” a Jordânia, pois “já passamos dessa fase”.
A trégua em Gaza, que se encontra em uma situação frágil, foi mencionada por Trump, que expressou ceticismo sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos pelo Hamas. O presidente exigiu que o movimento palestino libertasse reféns israelenses até sábado, sob pena de um “verdadeiro inferno” se instalar em Gaza.
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Após 15 meses de conflitos na região, um acordo de trégua mediado por Catar, Estados Unidos e Egito entrou em vigor em 19 de janeiro, prevendo o fim das hostilidades e a liberação de prisioneiros em troca de reféns, além do aumento da ajuda humanitária a Gaza.
A Jordânia, que é um aliado estratégico dos EUA no Oriente Médio, rejeitou anteriormente qualquer tentativa de assumir o controle dos territórios palestinos ou de deslocar seus habitantes. Trump, por sua vez, expressou o desejo de reconstruir Gaza e transformá-la na “Riviera do Oriente Médio”, após o deslocamento permanente dos palestinos.
O presidente americano solicitou que a Jordânia e o Egito acolhessem os mais de dois milhões de habitantes de Gaza que seriam deslocados, mas ambos os países árabes reiteraram sua oposição a essa proposta, defendendo uma solução de dois estados com um estado palestino independente ao lado de Israel.
Na próxima semana, o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sissi deve visitar a Casa Branca, após pedir que Gaza seja reconstruída “sem deslocar os palestinos”. O ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, também se reuniu com o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, em Washington, onde reafirmou a posição do Cairo de rejeitar qualquer compromisso que prejudicasse os direitos dos palestinos.
Para muitos especialistas, a questão de acolher os palestinos é particularmente sensível para a Jordânia, onde metade de seus 11 milhões de habitantes é de origem palestina. Desde a criação do Estado de Israel em 1948, muitos palestinos buscaram refúgio no país vizinho.
Um histórico conflito, conhecido como “Setembro Negro”, ocorreu em 1970 entre o exército jordaniano e grupos palestinos liderados pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), resultando na expulsão desses grupos do reino. A Jordânia, que recebe anualmente cerca de US$ 750 milhões em ajuda econômica dos EUA e US$ 350 milhões em ajuda militar, está ciente da pressão que Trump pode exercer sobre o país.
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