A confiança dos brasileiros nas Forças Armadas despencou desde abril de 2023, após investigações sobre tentativa de golpe.
17 de Fevereiro de 2025 às 06h50

Queda na confiança nas Forças Armadas chega a 72%, revela pesquisa Atlas

A confiança dos brasileiros nas Forças Armadas despencou desde abril de 2023, após investigações sobre tentativa de golpe.

BRASÍLIA - A confiança dos brasileiros nas Forças Armadas tem apresentado uma queda acentuada desde meados de 2023. Atualmente, 72% da população afirma não confiar no Exército Brasileiro, na Marinha do Brasil e na Força Aérea Brasileira. Apenas 24% dos entrevistados manifestaram confiança nas instituições militares, enquanto 4% não souberam opinar. Os dados são de uma pesquisa realizada pelo instituto Atlas, encomendada pelo canal de TV a cabo CNN Brasil.

A pesquisa foi conduzida entre os dias 11 e 13 de fevereiro, com 817 pessoas entrevistadas aleatoriamente pela internet. A amostra foi calibrada para refletir a composição demográfica da população adulta brasileira. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, com um nível de confiança de 95%.

Segundo a série histórica do Atlas, a confiança nas Forças Armadas atingiu seu auge em abril de 2023, quando 46% dos brasileiros afirmavam confiar nas instituições, enquanto 37% expressavam desconfiança. Desde então, a situação se deteriorou, com apenas 36% afirmando confiar em julho de 2023 e, agora, 24%.

Andrei Roman, CEO da AtlasIntel, analisa que a polarização da imagem das Forças Armadas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) contribuiu para essa queda. “Os bolsonaristas viam os militares de forma positiva, enquanto a esquerda desenvolveu um certo desprezo por eles. Essa polarização era quase 50-50”, explica.

Roman observa que, após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os militares passaram a se manter mais silenciosos, o que gerou críticas entre os bolsonaristas. “Muitos começaram a atacá-los, chamando-os de traidores e afirmando que não tiveram coragem de se levantar em defesa de Bolsonaro”, acrescenta.

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A imagem das Forças Armadas, especialmente do Exército, foi ainda mais prejudicada pelas investigações sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado liderada por Jair Bolsonaro e seus auxiliares, como o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto. Ambos negam as acusações. O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmou que o ex-presidente articulou um golpe que não se concretizou devido à recusa do então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes.

Durante uma reunião com os comandantes das Forças, Bolsonaro teria apresentado um rascunho de um decreto para a decretação do estado de defesa. Embora Freire Gomes tenha se oposto, o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, teria concordado, segundo a delação de Mauro Cid. Tanto Garnier quanto Bolsonaro negam as alegações.

Outros episódios menores também podem ter contribuído para a deterioração da credibilidade das Forças Armadas. Um exemplo é um vídeo institucional divulgado pela Marinha do Brasil em dezembro, que comparava as dificuldades enfrentadas pelos militares com a suposta tranquilidade dos civis. A peça publicitária provocou reações negativas e foi amplamente criticada.

Atualmente, a instituição com maior confiança entre os brasileiros é a Polícia Federal (PF), que conta com 53% de aprovação, enquanto 32% não confiam e 15% não souberam opinar. A Polícia Militar segue em segundo lugar, com 50% de confiança, e o Supremo Tribunal Federal (STF) com 49%, embora 47% dos entrevistados expressem desconfiança em relação ao STF.

As instituições menos confiáveis incluem o Congresso Nacional, com apenas 9% de confiança, e 82% de desconfiança. As igrejas evangélicas têm 18% de confiança, com 73% dos entrevistados afirmando não confiar nelas. As prefeituras também apresentam um baixo índice de confiança, com 24% de aprovação e 62% de desaprovação.

A pesquisa Atlas também abordou o apoio a medidas em discussão no Congresso Nacional. A proposta mais apoiada é o corte de gastos públicos, com 54% a favor, enquanto 28% são contra e 17% não souberam opinar. A população está dividida sobre a anistia a presos do 8 de janeiro, com 51% a favor e 49% contra. Apenas 32% apoiam que deputados e senadores mantenham controle sobre as emendas impositivas, e 83% são contrários à redução do prazo de inelegibilidade dos afetados pela Lei da Ficha Limpa.

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