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Delação de Mauro Cid revela pressão de Bolsonaro por fraude nas urnas
Ex-ajudante de ordens afirma que grupo de Bolsonaro não encontrou irregularidades nas eleições de 2022.
A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), trouxe à tona detalhes sobre a pressão exercida por Bolsonaro em busca de fraudes nas urnas eletrônicas durante o processo eleitoral de 2022. Segundo Cid, o grupo encarregado de investigar possíveis irregularidades sabia que não havia nada de errado com os equipamentos de votação.
Em depoimento à Polícia Federal (PF), prestado em agosto de 2023, Cid afirmou que o grupo era o mais pressionado por Bolsonaro, que exigia uma atuação mais incisiva do general Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa. O ex-ajudante relatou que o ex-presidente queria um documento que apresentasse uma narrativa “dura” sobre as eleições.
O grupo mencionado por Cid incluía figuras como o general Eduardo Pazuello, o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, e o major da reserva do Exército, Angelo Martins Denicoli, além de outros assessores técnicos. Cid declarou que, após o segundo turno das eleições, Bolsonaro recebia informações sobre supostas fraudes, mas a maioria das denúncias era explicada por questões estatísticas.
“O grupo não identificou nenhuma fraude nas urnas”, afirmou Cid, enfatizando que, apesar da falta de evidências, Bolsonaro continuou a buscar formas de reverter sua derrota nas eleições, considerando até a possibilidade de assinar um decreto que previa a prisão do ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e a realização de novas eleições.
A delação de Mauro Cid foi tornada pública após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar Bolsonaro e outras 33 pessoas por suposta tentativa de golpe de Estado. O ex-ajudante revelou que Bolsonaro tinha certeza de que encontraria uma fraude ou, caso não conseguisse, tentaria convencer as Forças Armadas a participar de um golpe.
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Cid também mencionou uma reunião em que um jurista apresentou a Bolsonaro um documento que retratava interferências do Judiciário no Executivo, culminando na elaboração de uma minuta de decreto que previa a prisão de Moraes e Gilmar Mendes, além da convocação de novas eleições.
Durante o depoimento, Cid relatou que Bolsonaro buscava apoio entre os comandantes das Forças Armadas, tendo o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha, se mostrado favorável a uma intervenção militar, enquanto o brigadeiro Batista Júnior, comandante da Aeronáutica, se opôs categoricamente a qualquer tentativa de golpe.
O ex-ajudante de ordens também destacou que, em uma reunião em dezembro de 2022, um general apresentou uma minuta de decreto que, segundo ele, reverteria o resultado das eleições presidenciais. Cid afirmou que havia um clima de pressão sobre os comandantes militares para que tomassem uma posição mais enérgica em relação à situação política do país.
Além disso, Cid confirmou que Bolsonaro não queria que os manifestantes que se aglomeravam em frente aos quartéis do Exército abandonassem suas posições, criando um ambiente propício para uma intervenção militar sob o pretexto de restaurar a ordem no país.
O tenente-coronel também revelou que o hacker Walter Delgatti se encontrou com Bolsonaro a pedido da deputada federal Carla Zambelli, e que o ex-presidente questionou Delgatti sobre as vulnerabilidades das urnas eletrônicas, buscando evidências que sustentassem suas alegações de fraude.
A delação de Cid, que abrange diversos aspectos da administração de Bolsonaro, incluindo tentativas de golpe, desvio de joias recebidas de autoridades estrangeiras e o uso de estruturas do Estado para atacar opositores, continua a ser um ponto central nas investigações sobre os atos antidemocráticos ocorridos após as eleições de 2022.
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