Depoimentos de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, revelam tentativas de manipulação de relatórios sobre eleições.
20 de Fevereiro de 2025 às 16h10

Cid revela que Bolsonaro pressionou Defesa a apontar fraude nas urnas em 2022

Depoimentos de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, revelam tentativas de manipulação de relatórios sobre eleições.

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, revelou em depoimento que Bolsonaro pressionou o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, a elaborar um relatório que indicasse fraude nas urnas eletrônicas durante as eleições de 2022. O ex-presidente perdeu a disputa para Luiz Inácio Lula da Silva e buscava formas de contestar o resultado.

Cid afirmou que, apesar de os técnicos das Forças Armadas não terem encontrado irregularidades no sistema eleitoral, Bolsonaro insistiu para que o relatório apresentasse uma narrativa diferente. “A conclusão dele [do general Paulo Sérgio] ia ser que não houve fraude. Aí o presidente estava pressionando que ele escrevesse isso de outra forma”, declarou Cid durante audiência com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que também presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na época.

O depoimento de Cid, que faz parte de um acordo de colaboração premiada, foi gravado e teve o sigilo retirado por Moraes nesta quinta-feira. Em um dos trechos, o ex-ajudante de ordens confirmou que Bolsonaro teria proibido o ministro da Defesa de apresentar laudos que demonstrassem a ausência de problemas nas urnas eletrônicas.

“Sim, senhor. O senhor lembrando agora. Eu tô lembrando do caso. O que aconteceu foi exatamente isso”, afirmou Cid, referindo-se à pressão exercida por Bolsonaro sobre o general. Em 9 de novembro de 2022, o Ministério da Defesa enviou um relatório ao TSE, mas o documento não apontou falhas no sistema, embora tenha deixado em aberto a possibilidade de fraude.

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Cid também mencionou a pressão do ex-presidente para que o relatório do PL (Partido Liberal), que buscava anular os votos de metade das urnas, fosse finalizado rapidamente. “Tinha a pressão do presidente para fazer logo, ‘faz logo, faz logo’”, disse Cid, ressaltando que não havia exigência para que o conteúdo fosse falsificado, mas sim para que o trabalho fosse apressado.

O tenente-coronel destacou que o relatório do PL continha apenas “estatísticas” e que o partido foi posteriormente condenado e multado em R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé, conforme decisão de Moraes.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou Bolsonaro, alegando que as tentativas de contestar as eleições de 2022 eram parte de uma estratégia para manter os acampamentos golpistas em frente aos quartéis e para manter a “chama acesa” de que algo poderia ser feito para impedir a posse de Lula.

Os depoimentos de Cid, que agora estão disponíveis publicamente, revelam um cenário de pressão política e tentativas de manipulação de informações sobre o processo eleitoral, o que pode ter implicações significativas nas investigações em curso.

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