
PKK declara cessar-fogo após 40 anos de conflito com a Turquia
O cessar-fogo do PKK, que luta por autonomia curda, pode mudar o cenário político na Turquia.
O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que há quatro décadas se opõe ao governo da Turquia, anunciou um cessar-fogo neste sábado, 1º de março. A decisão surge após um apelo de seu líder, Abdullah Öcalan, que está preso desde 1999, para que o grupo deponha as armas e se dissolva.
O comunicado do PKK foi divulgado pela Agência de Notícias Firat, que é próxima ao grupo. A declaração afirma: “Declaramos hoje um cessar-fogo efetivo para abrir caminho à implementação do Apelo à Paz e à Sociedade Democrática do Líder Apo. Nenhuma de nossas forças tomará ações armadas, a menos que seja atacada”.
O cessar-fogo ocorre em um contexto de mudanças significativas na região, incluindo a reconfiguração do poder na Síria após a destituição do presidente Bashar Al Assad, o enfraquecimento do Hezbollah no Líbano e a guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza.
Desde o início do conflito em 1984, a luta do PKK já resultou em dezenas de milhares de mortes. O grupo, que inicialmente buscava a criação de um Estado curdo, mudou seu foco para a busca de maior autonomia para a população curda na Turquia.
O cessar-fogo é o primeiro sinal de progresso desde que as conversas de paz entre o PKK e o governo turco foram interrompidas em 2015. Na quinta-feira, uma delegação de políticos curdos visitou Öcalan e anunciou seu apelo para que o PKK deponha as armas.
O comitê executivo do PKK declarou que o pedido de Öcalan indica que “um novo processo histórico começou no Curdistão e no Oriente Médio”, referindo-se às regiões da Turquia, Iraque, Síria e Irã habitadas por curdos.


Embora o PKK tenha afirmado que cumprirá o apelo de Öcalan, o grupo ressaltou que “a política democrática e as bases legais também devem ser adequadas para o sucesso”.
O PKK também solicitou a libertação de Öcalan da prisão de Imrali, no Mar de Mármara, para que ele possa liderar pessoalmente um congresso que levaria os militantes a depor as armas.
A iniciativa de paz entre o Estado turco e o PKK, considerado uma organização terrorista pela Turquia e por vários aliados ocidentais, foi iniciada em outubro pelo político de extrema-direita Devlet Bahceli, que sugeriu que Öcalan poderia obter liberdade condicional se o PKK renunciasse à violência.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, comentou que a mensagem de Öcalan representa uma “nova fase” nos esforços de paz, afirmando que “há uma oportunidade de dar um passo histórico para derrubar o muro de terror que se interpõe entre a irmandade de mil anos dos povos turco e curdo”.
Analistas acreditam que o principal objetivo do governo de Erdoğan é obter apoio curdo para uma nova constituição que lhe permita permanecer no poder além de 2028, quando seu mandato termina. Sirri Sureyya Onder, membro do partido prós-curdo Igualdade e Democracia do Povo (DEM), que visitou Öcalan, afirmou que “haverá uma série de reuniões na próxima semana” para discutir os próximos passos.
Öcalan, de 75 anos, continua a exercer uma influência significativa no movimento curdo, mesmo após 25 anos de prisão. O PKK, que tem se limitado a ataques isolados nos últimos anos, enfrenta pressão crescente do governo turco, que busca dissolver todos os grupos associados ao PKK.
O cessar-fogo pode não apenas impactar a Turquia, mas também ter repercussões em toda a região do Oriente Médio, onde a população curda é significativa. Observadores acreditam que uma resolução do conflito poderia abrir caminho para um acordo de paz no norte da Síria, onde as forças curdas controlam um território importante.
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