
Oposição de centro-direita vence eleições na Groenlândia sob influência de Trump
As eleições legislativas na Groenlândia resultaram na vitória do partido Democratas, que defende a independência cautelosa da Dinamarca.
As eleições legislativas realizadas na Groenlândia na última terça-feira, 11 de março, resultaram na surpreendente vitória do partido Democratas, de centro-direita, que obteve 29,9% dos votos, um crescimento significativo em relação aos 9,1% conquistados nas eleições de 2021. O partido, que se autodenomina social-liberal, é favorável a uma independência gradual da Dinamarca, antiga potência colonial que ainda mantém controle sobre as questões externas e de defesa da ilha.
O partido nacionalista Naleraq, que pleiteia uma independência mais rápida, ficou em segundo lugar com 24,5% dos votos. A atual coalizão de governo, composta pelos partidos Inuit Ataqatigiit (IA) e Siumut, sofreu uma derrota acentuada, com o IA perdendo 15,3 pontos percentuais e Siumut 14,7, totalizando apenas 36% dos votos combinados.
O pleito foi marcado por um forte clima de tensão internacional, especialmente devido às declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que manifestou interesse em adquirir a Groenlândia, afirmando que o território poderia ser obtido “de uma forma ou de outra”. Essa situação gerou um aumento no comparecimento às urnas, com muitos groenlandeses preocupados com a possibilidade de uma intervenção americana.
Com uma população de aproximadamente 57 mil habitantes, a Groenlândia é rica em recursos minerais e hidrocarbonetos, o que a torna um alvo de interesse geopolítico. O atual primeiro-ministro, Mute Egede, do IA, reconheceu a vitória dos Democratas e afirmou que respeitará o resultado das eleições.
“O povo quer mudanças. Queremos mais negócios para financiar nosso bem-estar”, declarou Jens-Frederik Nielsen, líder do Democratas, durante seu discurso de vitória. Ele ressaltou a importância de estabelecer uma base sólida antes de avançar em direção à independência total.


A Groenlândia, que é coberta em grande parte por gelo, possui um histórico de tratamento desigual por parte da Dinamarca, o que alimenta o desejo de autonomia entre os groenlandeses. No entanto, a dependência econômica da ajuda dinamarquesa, que representa cerca de 20% do PIB local, levanta preocupações sobre a viabilidade de uma independência imediata.
Os debates eleitorais também abordaram temas como saúde, educação e a relação com a Dinamarca, que ainda controla aspectos cruciais da administração da ilha. A nova configuração política exigirá negociações para a formação de um governo, uma vez que nenhum partido conquistou a maioria dos 31 assentos do Parlamento local.
O cenário político na Groenlândia é complexo e reflete as tensões geopolíticas em torno do Ártico, onde a Rússia e a China também estão intensificando suas atividades. A vitória dos Democratas pode sinalizar uma mudança na abordagem em relação à independência, com um foco mais cauteloso em comparação ao fervor nacionalista do Naleraq.
Com a nova composição do Parlamento, os líderes políticos da Groenlândia terão que encontrar um equilíbrio entre os desejos da população por autonomia e a realidade econômica que ainda depende do apoio dinamarquês.
As eleições na Groenlândia atraíram atenção internacional, especialmente em um momento em que o interesse por recursos naturais e rotas de navegação no Ártico está crescendo. A vitória do partido Democratas poderá influenciar a trajetória política da ilha nos próximos anos, à medida que os groenlandeses buscam definir seu futuro em um cenário global em constante mudança.
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