
Israel intensifica bombardeios na Faixa de Gaza e emite "último aviso" aos palestinos
Novos ataques aéreos de Israel na Faixa de Gaza resultaram em mortes e feridos, enquanto o governo israelense pressiona o Hamas a liberar reféns.
Na manhã desta quinta-feira (20), Israel realizou uma nova série de bombardeios nas regiões norte e sul da Faixa de Gaza, apresentando esses ataques como "um último aviso" aos habitantes do território palestino, caso o grupo Hamas não libere os reféns ainda retidos. A Defesa Civil da Faixa de Gaza informou que pelo menos 10 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas após a intensificação dos ataques, especialmente ao leste de Khan Yunis.
As vítimas desta quinta-feira se somam aos 470 palestinos que perderam a vida nos ataques aéreos israelenses iniciados na madrugada de terça-feira (18), incluindo 14 integrantes de uma mesma família, que foram mortos em um bombardeio no norte do território na quarta-feira (19).
Fred Oola, médico do hospital de campanha da Cruz Vermelha em Rafah, no sul de Gaza, comentou sobre a situação: "Agora, podemos sentir o pânico no ar (...) e ver a dor e devastação nos rostos das pessoas que ajudamos", declarou em um comunicado.
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, fez uma declaração contundente: "Residentes de Gaza, este é o último aviso. Devolvam os reféns e eliminem o Hamas, e outras opções serão abertas, incluindo a possibilidade de se deslocarem para outros lugares do mundo para aqueles que desejarem".
O exército israelense também fechou a Salaheddine Road, a principal via que liga o norte ao sul da Faixa de Gaza. Em uma mensagem, o porta-voz do exército israelense de língua árabe, Avichay Adraee, informou que tropas israelenses iniciaram uma operação terrestre limitada no centro e sul da Faixa de Gaza. "Para sua segurança, viagens entre o norte e o sul da Faixa de Gaza e vice-versa são proibidas no eixo", afirmou.
O Hamas, por sua vez, acusou Israel de tentar "torpedear" o acordo de trégua que entrou em vigor em 19 de janeiro, após 15 meses de guerra em Gaza. Em resposta, um míssil lançado pelos rebeldes huthis do Iémen, que são apoiados pelo Irã e solidários ao movimento islâmico palestino, foi interceptado pela defesa israelense, tendo como alvo o Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel Aviv.
No centro de Gaza, o escritório das Nações Unidas de Serviços e Projetos (UNOPS) anunciou que um de seus funcionários morreu e outras cinco pessoas ficaram feridas em Deir al Balah, vítimas de um "artefato explosivo" que atingiu um de seus prédios. O Ministério da Saúde do governo do Hamas culpou Israel, enquanto o exército israelense negou ter bombardeado um prédio da ONU. A chancelaria israelense anunciou que estava investigando "as circunstâncias" da morte de um cidadão búlgaro, funcionário da ONU.


O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu uma "investigação completa" sobre o incidente, e o Reino Unido também exigiu um inquérito "transparente".
Um funcionário do Hamas informou à agência Reuters que os mediadores do conflito em Gaza intensificaram o diálogo com as partes para a retomada do cessar-fogo, embora não tenha havido avanços até o momento. O Hamas não respondeu militarmente aos ataques, mas um de seus representantes declarou que o grupo está aberto a iniciar conversas para retomar o cessar-fogo.
O Hamas não fechou a porta para as negociações, mas insistiu que "não há necessidade de novos acordos", conforme afirmou Taher al Nunu, um dirigente do movimento. Ele pediu que Israel seja obrigado a respeitar o acordo de cessar-fogo existente e destacou a importância da "segunda fase das negociações", prevista no acordo de trégua em vigor desde 19 de janeiro.
A primeira fase da trégua, que expirou em 1º de março, resultou na devolução de 33 reféns a Israel, oito deles mortos, e na libertação de 1.800 prisioneiros palestinos. Desde então, as negociações mediadas por Catar, EUA e Egito foram paralisadas.
O Hamas deseja avançar para a segunda fase do acordo, que prevê um cessar-fogo permanente, a retirada israelense de Gaza, a reabertura das passagens fronteiriças para ajuda humanitária e a libertação dos últimos reféns. Já Israel exige que a primeira fase se estenda até meados de abril e demanda a "desmilitarização" de Gaza e a saída do Hamas, que controla o território desde 2007.
Em Jerusalém, milhares de manifestantes protestaram contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acusado de tomar um caminho antidemocrático e de continuar a guerra contra o Hamas sem considerar os reféns em poder do movimento palestino. "Esperamos que todo o povo de Israel se una ao movimento e continue até que se restabeleça a democracia e libertem os reféns", disse Zeev Berar, de 68 anos, que participou do protesto.
Das 251 pessoas sequestradas durante o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, 58 permanecem em Gaza, das quais 34 já foram declaradas mortas pelo exército. O ataque de 7 de outubro de 2023, executado pelo Hamas, resultou em 1.218 mortes do lado israelense, que lançou uma ofensiva de represália em Gaza, causando pelo menos 48.570 mortes até o momento.
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