Durante julgamento, ministra do STF afirma que responsabilidade sobre urnas é de outro poder, não da Abin.
25 de Março de 2025 às 14h53

Cármen Lúcia contesta defesa de Ramagem sobre fiscalização das urnas eletrônicas

Durante julgamento, ministra do STF afirma que responsabilidade sobre urnas é de outro poder, não da Abin.

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia fez uma contundente defesa da separação de poderes ao contestar a argumentação do advogado Paulo Renato Garcia Cintra Pinto, que representa o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), durante o julgamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado.

O embate ocorreu na manhã de hoje, quando Cármen Lúcia pediu a palavra para esclarecer que a fiscalização das urnas eletrônicas não é uma atribuição da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). “Vossa Excelência anotou urnas como função da Abin. E urnas são de outro Poder”, afirmou a ministra, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Durante sua sustentação oral, o advogado de Ramagem argumentou que a Abin deveria ter a função de atestar a segurança das urnas. Ele sustentou que a criação de um grupo de trabalho para esse propósito não indicaria uma tentativa de manipulação dos resultados eleitorais. No entanto, Cármen Lúcia questionou diretamente o advogado sobre sua afirmação, reiterando que a responsabilidade pela segurança das urnas está fora da alçada da Abin.

“Vossa Excelência disse que é dever da Abin apurar a segurança e a fiscalização das urnas no processo eleitoral. É essa a frase de Vossa Excelência?”, indagou Cármen Lúcia. A ministra enfatizou que, segundo a Constituição, a supervisão das urnas é uma atribuição de outro poder, reforçando a necessidade de respeitar a independência das instituições.

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O advogado, por sua vez, insistiu que a função de zelar pela segurança do processo eleitoral se relaciona às atribuições institucionais da Abin, afirmando que se trata de um tema de soberania nacional. Contudo, a ministra reafirmou que a fiscalização das urnas não faz parte das atribuições do órgão.

O julgamento, que pode resultar em uma ação penal contra Ramagem e outros denunciados, é parte de um inquérito que investiga uma suposta organização criminosa que teria planejado um golpe após as eleições presidenciais de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O ex-diretor da Abin, Ramagem, é um dos 34 denunciados no caso e é o único com foro privilegiado, o que faz com que seu julgamento ocorra no STF. A acusação alega que o grupo tentou desestabilizar a democracia brasileira e que Ramagem teria supervisionado ações de monitoramento e desinformação contra opositores do governo na época em que esteve à frente da Abin.

A PGR alega que durante a gestão de Ramagem, houve uso indevido de ferramentas de inteligência para monitoramento de adversários políticos e disseminação de informações falsas, o que configura uma grave violação das normas democráticas.

Com a continuidade do julgamento, o STF deve decidir se aceita a denúncia da PGR, o que daria início a uma ação penal formal contra os envolvidos. O colegiado, composto por cinco ministros, está analisando as provas apresentadas e as defesas dos acusados.

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