Iguanas, furões e aves exóticas atraem, mas exigem cuidados, custam caro e vêm com regras rígidas. Tráfico e abandono ameaçam a natureza
15 de Agosto de 2025 às 17h36

O que você precisa saber antes de adotar um pet exótico no Brasil

Iguanas, furões e aves exóticas atraem, mas exigem cuidados, custam caro e vêm com regras rígidas. Tráfico e abandono ameaçam a natureza

Quem nunca se encantou com a ideia de ter uma iguana passeando pela casa, um furão brincalhão ou uma calopsita cantando? No Brasil, pets exóticos estão na moda, impulsionados por vídeos fofos nas redes sociais e pela vida urbana, que faz muita gente buscar bichos diferentes de cães e gatos. Mas, antes de se aventurar, é bom saber: ter um pet exótico não é como cuidar de um cachorro ou gato. As regras são duras, os custos são altos, e os desafios vão desde encontrar um veterinário até evitar problemas com a natureza. O Brasil, com uma fauna riquíssima, enfrenta um problema sério com o tráfico de animais e o abandono, que prejudicam bichos e ecossistemas.

Pets exóticos são animais que não são nativos do Brasil, como iguanas, cobras, pássaros coloridos ou furões, e só podem ser adotados se vierem de criadouros autorizados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Animais selvagens brasileiros, como araras e jabutis, não podem ser pets. A realidade é que muitos tutores compram por impulso, sem entender as responsabilidades, e acabam enfrentando dificuldades – ou até abandonando os bichos. Com o mercado de pets crescendo (deve chegar a R$ 78 bilhões em 2025), é hora de entender o que está em jogo antes de trazer um exótico para casa.

Regras e papelada: um caminho cheio de cuidados

Ter um pet exótico no Brasil exige seguir leis bem rigorosas. A Lei de Proteção à Fauna, de 1967, diz que animais selvagens pertencem ao país, e só podem ser criados com permissão do Ibama. Isso significa que bichos como iguanas, jiboias, calopsitas ou furões precisam vir de criadouros legais, com nota fiscal e registro. Pássaros, por exemplo, usam anilhas (uma espécie de “anel de identificação”), enquanto furões e répteis podem ter chips. Animais brasileiros capturados na natureza, como araras-azuis ou jabutis, são totalmente proibidos, para proteger espécies ameaçadas.

O Ibama tem regras claras: para ter um pet exótico, você precisa de uma licença, que exige documentos como comprovante de onde o animal foi comprado e um laudo veterinário mostrando que ele está saudável. Além disso, você deve provar que tem um espaço adequado em casa, como um terrário para répteis ou uma gaiola grande para aves. Quem desrespeita essas regras pode levar multas de R$ 500 a R$ 5.000 por animal, além de risco de prisão por até um ano. Em lugares como a Amazônia, as regras são ainda mais rígidas para proteger a natureza local. A papelada pode ser complicada, e muitos tutores desistem ou compram bichos de origem duvidosa, o que alimenta o comércio ilegal.

Cuidar é caro e exige atenção especial

Cuidar de um pet exótico não é simples como dar ração e levar para passear. Cada animal tem necessidades bem específicas. Iguanas, por exemplo, precisam de um terrário com temperatura e umidade controladas, além de comer vegetais frescos e suplementos. Se o ambiente não for ideal, elas podem ficar doentes, com problemas como infecções ou ossos fracos. Pássaros como calopsitas precisam de gaiolas espaçosas para voar, brinquedos para se distrair e uma dieta variada com sementes, frutas e vitaminas. Furões exigem vacinas contra raiva e outras doenças, além de cirurgias para evitar problemas de saúde no futuro.

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Encontrar um veterinário que entenda de exóticos é outro desafio. No Brasil, esses profissionais são raros e ficam em cidades grandes, como São Paulo e Rio de Janeiro. Uma consulta comum com um clínico geral custa em média R$ 150, mas com especialistas, como no Hospital Santa Inês, em São Paulo, o valor chega a R$ 290. Tratamentos mais complexos, como cirurgias, podem custar mais de R$ 2.000. Além disso, alguns exóticos, como iguanas, podem transmitir doenças como salmonelose, que também afetam humanos, então é preciso ter cuidado extra com higiene. Muitos bichos morrem cedo porque os donos não conseguem criar o ambiente certo ou pagar pelos cuidados.

Tráfico e abandono: um problema para a natureza

O comércio ilegal de animais é uma ameaça séria no Brasil, que tem uma das maiores diversidades de fauna do mundo. O Ibama já apreendeu mais de 1,1 milhão de animais desde 2019, muitos capturados para virar pets. Espécies como o papagaio-verdadeiro estão em risco de extinção por causa disso. Outro problema é o abandono: muitos tutores compram uma iguana sem saber que ela pode chegar a 1,8 metro e exige cuidados intensos. Quando percebem a dificuldade, alguns soltam os bichos em florestas, rios ou parques, achando que estão “libertando” o animal. Na verdade, isso prejudica a natureza, porque exóticos soltos podem virar espécies invasoras, como o javali, que destrói plantações e causa prejuízos de bilhões de reais por ano.

O Ibama tenta combater isso com campanhas como “Se não é livre, eu não curto”, lançada em 2025, que alerta sobre o tráfico nas redes sociais. Mesmo assim, o abandono e o comércio ilegal continuam, muitas vezes porque as pessoas compram por impulso, sem entender o impacto.

Custos altos e responsabilidade ética

Ter um pet exótico pesa no bolso. Para uma iguana, o terrário inicial custa de R$ 800 a R$ 1.500, com gastos mensais de R$ 200 a R$ 400 para comida (frutas, vegetais, suplementos) e energia para manter o aquecimento. Uma gaiola para calopsita custa entre R$ 150 e R$ 600, com despesas mensais de R$ 50 a R$ 150. No total, o custo por ano pode chegar a R$ 5.000 a R$ 10.000 por animal, sem contar as licenças do Ibama, que custam de R$ 100 a R$ 300 anualmente. Com o mercado de pets crescendo (9-10% em 2024), esses valores tendem a subir.

Além do dinheiro, há uma questão ética. Muitos exóticos sofrem em casa porque não vivem como na natureza. Pássaros estressados, por exemplo, podem se machucar arrancando as próprias penas. A Constituição Brasileira proíbe maus-tratos, e uma lei de 2020 aumentou as punições para quem descuida dos bichos. O Ibama também exige que os criadouros sigam regras de bem-estar, mas em casas comuns, é difícil fiscalizar. Muitos tutores tratam esses animais como se fossem cães ou gatos, esquecendo que eles têm necessidades bem diferentes.

Antes de adotar, pense bem

Adotar um pet exótico pode parecer divertido, mas exige muito planejamento. Antes de comprar, é essencial verificar se o animal vem de um criadouro legal, com nota fiscal e registro no Ibama – isso evita apoiar o tráfico. Além disso, você precisa estar pronto para gastar tempo e dinheiro com cuidados especiais, como terrários, dietas específicas e visitas a veterinários especializados. Iguanas, por exemplo, crescem muito e vivem anos, enquanto pássaros precisam de espaço e atenção. Abandonar um animal por não conseguir cuidar dele não é solução: isso machuca o bicho e prejudica a natureza. O Ibama e veterinários reforçam que a adoção responsável é a chave. Se você não tem condições de oferecer tudo que um exótico precisa, talvez seja melhor continuar com um cão ou gato. Proteger a fauna brasileira e o bem-estar desses animais depende de escolhas conscientes.

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