A instalação da CPI do Crime Organizado no Senado nesta terça-feira traz preocupações para o governo e a oposição, que busca explorar o tema da segurança.
04 de Novembro de 2025 às 12h04

CPI do Crime Organizado gera apreensão no governo Lula e na oposição

A instalação da CPI do Crime Organizado no Senado nesta terça-feira traz preocupações para o governo e a oposição, que busca explorar o tema da segurança.

A instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado no Senado, marcada para esta terça-feira, 4, acende um alerta no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na sua base aliada. A CPI surge em um contexto de crescente tensão política, especialmente após a recente operação policial no Rio de Janeiro que resultou em 121 mortes, um evento que reacendeu o debate sobre a segurança pública no Brasil.

Os petistas observam que, ao contrário de outras CPIs, como a mista do INSS, a esquerda não possui uma acusação contundente contra a direita, o que pode dificultar a defesa do governo. A preocupação se intensifica com a união da direita em torno do tema, especialmente após a operação que deixou um rastro de destruição e mortes, levando o governo a considerar que figuras como Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro, e outros aliados bolsonaristas saíram “vitoriosos” na discussão sobre segurança pública.

A CPI contará com uma maioria oposicionista, o que pode transformá-la em um palco político para criticar as ações do governo Lula na área de segurança. Entre os senadores indicados para compor a comissão estão nomes como Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Sergio Moro (União-SP), ambos com forte apelo entre a base conservadora.

O senador licenciado Marcos do Val (Podemos-ES) foi indicado como membro titular, e caso não assuma, será substituído por Mário Bittar (PL-AC). Magno Malta, outro aliado de Bolsonaro, também está entre os titulares, enquanto Eduardo Girão (Novo-CE) atuará como suplente.

O governo Lula, por sua vez, tenta garantir influência na CPI ao articular o nome do senador Fabiano Contarato (PT-ES) para a presidência da comissão. A oposição, no entanto, pressiona pela escolha de Flávio Bolsonaro, que poderia usar a CPI para expor as fragilidades do governo em relação à segurança pública.

A criação da CPI foi anunciada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), um dia após a operação no Rio, que atraiu atenção nacional. Alcolumbre enfatizou a necessidade de unir as instituições do Estado para enfrentar as facções e milícias que ameaçam a segurança do país.

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A CPI terá um papel crucial na investigação da estrutura e funcionamento do crime organizado, com foco nas milícias e facções criminosas. O debate sobre segurança pública tem se intensificado no Congresso, com a aprovação de projetos que endurecem penas e ampliam tipos penais, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) busca impor limites à letalidade policial.

O senador Eduardo Girão destacou a importância da união no combate ao crime, afirmando que o crime não deve ser dividido entre partidos políticos. “Ninguém defende o crime”, afirmou Girão, ressaltando que a CPI deve ser um campo de batalha pela verdade e pela justiça.

Nos bastidores, líderes do PL têm trabalhado para consolidar o nome de Flávio Bolsonaro como presidente da CPI, numa articulação que visa ampliar o domínio oposicionista sobre a comissão. A CPI, portanto, se configura como um novo teste de força política entre o governo e seus adversários, com repercussões diretas nas articulações para as eleições de 2026.

Enquanto isso, o governo Lula teme que a oposição consiga dominar o debate sobre segurança pública, um tema tradicionalmente favorável à direita, ofuscando as agendas positivas do Planalto, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Senadores da base reconhecem que, se o governo for forçado a concentrar sua narrativa na segurança, poderá perder o debate, tendo que equilibrar direitos humanos e resultados concretos no combate ao crime.

A relatoria de Alessandro Vieira (MDB-SE) é vista como uma estratégia do governo para conter a oposição, já que o senador é considerado um nome independente. Vieira defende que a CPI busque um consenso nacional sobre segurança pública, evitando a polarização ideológica.

O cenário atual indica uma disputa real pelo comando da CPI, e a eventual vitória de Flávio Bolsonaro poderia consolidar o domínio da oposição, ampliando o desgaste do governo em um tema sensível. A CPI do Crime Organizado, portanto, não é apenas uma investigação, mas um campo de batalha política que pode moldar o futuro do debate sobre segurança no Brasil.

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