Pesquisas com agonistas de GLP-1 em cães e gatos avançam, revelando potencial terapêutico para obesidade pet, mas ainda exigindo rigor científico e supervisão
04 de Dezembro de 2025 às 15h26

A promessa do uso de “Ozempic” para tratar cães e gatos obesos

Pesquisas com agonistas de GLP-1 em cães e gatos avançam, revelando potencial terapêutico para obesidade pet, mas ainda exigindo rigor científico e supervisão

As famosas canetas de emagrecimento usadas por humanos, como o Ozempic, passaram a despertar interesse também entre pesquisadores da medicina veterinária. Alguns estudos iniciais em gatos e cães sugerem efeitos parecidos com os observados em pessoas, como redução do apetite e melhora no controle do açúcar no sangue. Mesmo assim, especialistas reforçam que esses medicamentos ainda não são aprovados para animais e que seu uso permanece limitado a pesquisas controladas.

Como funcionam e o que já foi testado em cães e gatos

As canetas de emagrecimento prolongam a sensação de estômago cheio e ajudam a estabilizar a glicemia. Essa explicação vem de estudos científicos revisados por pares, disponíveis em repositórios oficiais como o PubMed Central, que detalham o mecanismo dessas substâncias. Em pets, pesquisas iniciais mostram respostas semelhantes, embora ainda imprevisíveis e muito variáveis entre espécies.

Em gatos, estudos clínicos pequenos observaram perda de peso moderada e alguma melhora no controle glicêmico após o uso de medicamentos análogos ao Ozempic. Os efeitos colaterais, em geral, incluíram náusea e vômito, sobretudo no início do tratamento. Essas informações constam em publicações científicas acessíveis no PubMed Central.

Há também testes experimentais com implantes que liberam pequenas quantidades do medicamento ao longo de meses. Em gatos obesos, esses dispositivos ajudaram a reduzir a ingestão de ração e manter a perda de peso por períodos prolongados. Apesar de promissores, esses estudos ainda envolvem poucos animais, o que impede qualquer conclusão definitiva.

Em cães, as evidências são mais limitadas. O organismo canino responde de modo diferente, especialmente em casos de diabetes, e isso reduz a previsibilidade do efeito das canetas. Mesmo assim, alguns estudos experimentais indicam que cães obesos podem comer menos e apresentar discreta melhora na tolerância ao açúcar. Tudo ainda é exploratório.

Por que veterinários ainda não usam essas canetas em pets

Nenhuma caneta de emagrecimento atualmente disponível foi aprovada para uso veterinário em qualquer país. Isso significa que não existem doses oficiais para animais, nem estudos suficientes para garantir segurança a longo prazo. Autoridades como a FDA alertam inclusive sobre riscos do uso inadequado em humanos, o que reforça a cautela máxima quando se pensa em adaptá-las para pets.

No Brasil, a Anvisa tornou o acesso ainda mais restrito. A compra dessas canetas exige retenção de receita e a manipulação de substâncias como semaglutida foi proibida, impedindo qualquer uso veterinário por vias alternativas. A justificativa é simples, proteger os consumidores de produtos sem controle e evitar tratamentos improvisados com risco elevado para humanos e animais.

Além dos obstáculos regulatórios, o custo dos medicamentos é alto e o acompanhamento veterinário teria de ser rigoroso. Mesmo que o produto fosse aprovado, não seria uma solução rápida ou acessível para todos os tutores, e dificilmente substituiria o básico, que continua sendo dieta adequada e atividade física.

Perspectivas futuras e como isso poderia impactar o Brasil

Apesar das limitações atuais, muitos pesquisadores acreditam que versões específicas de canetas de emagrecimento para animais podem se tornar realidade no futuro. Os primeiros estudos internacionais, embora pequenos, indicam que a tecnologia tem potencial para ajudar gatos e possivelmente alguns cães, desde que receba ajustes de formulação, dose e segurança. Ainda assim, é cedo para prever quando ou se uma aprovação oficial acontecerá.

Se algum país aprovar um produto desse tipo nos próximos anos, o Brasil provavelmente observará de longe antes de considerar a adoção. Por aqui, o histórico regulatório é conservador, e tratamentos inovadores costumam levar tempo até chegarem ao mercado. A Anvisa exigirá estudos específicos em animais, comprovação de segurança e eficácia e uma cadeia de produção estável, o que pode acrescentar vários anos ao processo.

No cenário mais otimista, uma aprovação internacional poderia abrir caminho para discussões brasileiras alguns anos depois, mas não há garantias de quando isso ocorreria. O avanço depende de pesquisas consistentes, resultados reprodutíveis e segurança irrepreensível. Até lá, o uso das canetas de emagrecimento para pets permanece uma possibilidade futura, mas ainda distante da realidade prática.

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