Gabriel Galípolo afirma que Banco Central não deve sugerir política fiscal ao governo
Durante evento em São Paulo, futuro presidente do BC ressaltou que sua função é explicar o comportamento do mercado.
Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central (BC), reafirmou que a instituição não tem como função sugerir a condução da política fiscal, durante sua participação em um evento promovido pelo Esfera Brasil, realizado em São Paulo, na noite da última quinta-feira (28). A declaração veio após questionamentos sobre os diálogos com o Partido dos Trabalhadores (PT) e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o indicou para o cargo.
Em sua fala, Galípolo destacou: “O BC sempre é chamado quando se busca entender o que está acontecendo no mercado. Quando o governo convoca o Banco Central, não se espera que ele indique o que deve ser feito.” Ele enfatizou que a missão da autarquia é permanecer dentro dos limites da política monetária e esclarecer a dinâmica dos ativos financeiros.
O futuro presidente do BC também elogiou o trabalho realizado pelo Ministério da Fazenda e pela Casa Civil na elaboração do pacote fiscal apresentado pelo governo na noite da quarta-feira (27). “Foi um trabalho muito importante, que eu pude observar de perto”, afirmou, ressaltando a importância da colaboração na construção de consensos.
Galípolo também mencionou que, com base nos indicadores econômicos, é razoável supor que a taxa de juros precisará permanecer em um nível mais restritivo, ou seja, elevado. “Os dados sugerem que precisamos de juros em um patamar mais contracionista. A busca por essa meta pode ocorrer de maneiras diferentes, envolvendo custos variados, mas essa é uma das diretrizes que estamos comprometidos em seguir”, disse.
Sobre a resiliência da economia em um cenário de juros altos, o futuro presidente do BC considerou o tema complexo e indicou que é um desafio para a atual geração. “No Brasil, não existe uma solução mágica; é necessário analisar as diversas dissonâncias em relação às melhores práticas globais, tanto em políticas públicas fiscais quanto na questão das taxas de juros e desindexação”, afirmou.
Galípolo observou que um dos fatores que não pode ser mitigado com taxas de juros mais altas é o impacto sobre o Tesouro. Ele destacou que a taxa estabelecida pelo Tesouro não é a mesma definida pelo Banco Central, o que resulta em um peso maior sobre as finanças públicas. “Esse convívio com juros elevados deve ser um tema debatido não apenas em relação ao Banco Central, mas também sobre como normalizar as políticas econômicas no Brasil, aproximando-as das melhores práticas internacionais”, acrescentou.
Por fim, Galípolo reiterou que discutir a meta de inflação fixada em 3% não é uma questão para ser abordada por um diretor da autarquia. “Meta é algo que se cumpre e persegue”, afirmou, ressaltando que, uma vez estabelecida, cabe ao Comitê de Política Monetária (Copom) calibrar a taxa Selic de maneira a garantir o cumprimento desse objetivo.
Em sua analogia sobre a relação do Banco Central com o mercado financeiro, Galípolo comparou a situação à de um marinheiro em relação ao mar: “Reclamar do mercado é tão improdutivo quanto um marinheiro que se queixa do mar”, concluiu.
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