Proibição do estradiol gera polêmica sobre carne brasileira na União Europeia
Decisão da União Europeia de barrar carne bovina do Brasil devido ao uso do estradiol provoca reações no setor agropecuário.
A recente proibição da União Europeia (UE) e do Reino Unido sobre as importações de carne bovina proveniente de fêmeas brasileiras acendeu um debate acalorado no setor agropecuário. A medida, que se baseia no uso do hormônio estradiol, proibido na produção animal no bloco desde os anos 1990, é considerada por especialistas como uma ação protecionista, e não uma questão de saúde pública.
O estradiol, utilizado como anabolizante para estimular o crescimento de gado por décadas, passou a ser restrito a partir dos anos 1980, quando países europeus começaram a questionar sua segurança. A legislação da UE, aprovada em 2003, proíbe o uso do hormônio na promoção do crescimento animal, fundamentando-se em estudos que sugerem que ele pode ser um agente cancerígeno.
A decisão da UE gerou tensões internacionais, levando a disputas entre europeus e os Estados Unidos, com a Organização Mundial do Comércio (OMC) mediando a questão. Os EUA argumentam que não existem evidências suficientes sobre os malefícios do estradiol, ressaltando que ele é uma substância natural presente no corpo humano.
Recentemente, críticas à carne brasileira ganharam destaque na França, onde o deputado Vincent Trébuchet comparou o produto a lixo, expressando sua oposição ao acordo entre a UE e o Mercosul. Ele afirmou: “A realidade é que os nossos agricultores não querem morrer e que os nossos pratos não são lixos. Por não conseguirmos preservar nossa soberania nos últimos 25 anos, os governos franceses se mostraram distantes e receosos em relação a esse acordo.”
Grupos contrários ao acordo, como a ONG FoodWatch, também apontaram o estradiol como um dos motivos para não firmar o tratado. O Carrefour, rede de supermercados, anunciou que deixaria de vender carnes produzidas no Mercosul em suas lojas na França, gerando ainda mais polêmica.
No Brasil, a posição majoritária defende que o estradiol é utilizado apenas em tratamentos de fertilidade, sem deixar vestígios perigosos. Especialistas afirmam que o hormônio é expelido pelos animais antes do abate, e que a quantidade que chega ao consumidor final é segura. O uso de estradiol para induzir o crescimento, no entanto, é proibido no país.
A Instrução Normativa nº 55, de 2011, do Ministério da Agricultura, estabelece que é proibido o uso de hormônios de crescimento, mas permite seu uso para fins terapêuticos e de reprodução, como na Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF). O zootecnista Pedro Veiga, da Nutron/Cargill, destaca a importância do estradiol nesse processo, especialmente em vacas da raça zebu, onde a fertilidade pode cair significativamente sem sua utilização.
O debate sobre o uso do estradiol não se restringe ao Brasil. Outros países, como Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai, também adotaram restrições ao hormônio, enquanto a Comissão Europeia concluiu que não podia garantir que o estradiol não era utilizado em produtos enviados ao bloco, levando à decisão de comprar apenas carne de bovinos machos até que o Brasil pudesse garantir a segurança.
O Brasil agora enfrenta um prazo de 12 meses para se adaptar às novas exigências europeias, o que gera ceticismo entre produtores, já que menos de 2% da carne exportada tem como destino o continente europeu. A adaptação requer um controle complexo que muitos consideram uma prioridade secundária em meio a outras demandas do setor.
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