Operação do MP revela adulteração de leite com soda cáustica
Investigação aponta uso de substâncias nocivas em produtos lácteos da Dielat, com prisões de quatro pessoas envolvidas.
Uma operação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) desvendou um esquema de adulteração de produtos lácteos na fábrica Dielat, localizada em Taquara, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Na quarta-feira (11), a 13ª fase da Operação Leite Compensado resultou na prisão de quatro indivíduos, incluindo um sócio-proprietário e um engenheiro químico conhecido como o “mago do leite”.
De acordo com as investigações, a Dielat utilizava soda cáustica e água oxigenada em produtos como leite UHT, leite em pó e compostos lácteos. Essas substâncias, além de serem perigosas à saúde, eram empregadas para reprocessar produtos vencidos e mascarar a deterioração dos mesmos. As marcas comercializadas pela empresa incluem Mega Lac, Mega Milk, Tentações e Cootall, com distribuição em todo o Brasil e exportações para a Venezuela.
Durante a operação, foram cumpridos quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em diversas localidades, incluindo Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e São Paulo. O MPRS informou que a empresa já havia vencido licitações para fornecer laticínios a escolas e outros órgãos públicos, o que levanta preocupações sobre a segurança alimentar.
As práticas fraudulentas foram descritas como “sofisticadas”, permitindo que as substâncias nocivas escapassem das detecções iniciais realizadas pelos órgãos de fiscalização do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O promotor Mauro Rockenbach destacou que “além de ajustar o pH e mascarar a acidez do leite, essas substâncias apresentam riscos graves à saúde, incluindo potencial carcinogênico”.
Exames detalhados estão sendo realizados para identificar os lotes contaminados, uma vez que as novas fórmulas utilizadas pelos fraudadores dificultam a identificação de substâncias nocivas nas análises preliminares. As autoridades enfatizam a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa para evitar que práticas como essas continuem colocando a saúde da população em risco.
O engenheiro químico Sérgio Alberto Seewald, conhecido como “alquimista” ou “mago do leite”, é considerado a figura central nas fraudes identificadas em fases anteriores da operação. Ele já havia sido preso em 2014 por envolvimento em adulterações semelhantes e estava sob restrições legais que o impediam de atuar na indústria do leite.
A operação revelou que a Dielat utilizava códigos como “vitamina” e “receita” para despistar investigações, além de aprimorar suas práticas criminosas. As irregularidades não se limitam ao leite UHT, mas também incluem leite em pó e compostos lácteos, com a utilização de água oxigenada para matar micro-organismos e recuperar produtos deteriorados.
Com a descoberta dessas práticas, o MPRS está em alerta, uma vez que a adulteração de leite com soda cáustica e água oxigenada representa um risco substancial à saúde pública, especialmente em ambientes escolares, onde o consumo de leite é frequente entre crianças e adolescentes.
As consequências legais para a Dielat e seus associados podem ser severas, incluindo a possibilidade de sanções financeiras e a necessidade de auditorias rigorosas para garantir a integridade dos produtos no futuro. O MPRS continua a investigação e promete mais revelações sobre o caso nos próximos dias.
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