Correios anunciam pagamento de R$ 200 milhões em 'vale peru' enquanto enfrentam déficit histórico
Estatal, que deve registrar rombo histórico de R$ 2 bilhões em 2024, volta a oferecer benefício de Natal a funcionários.
Os Correios, em meio a um cenário financeiro alarmante, anunciaram um gasto de aproximadamente R$ 200 milhões para o pagamento do benefício de fim de ano conhecido como “vale peru”, que será concedido a seus 84.700 funcionários. O valor total de R$ 2.500 será dividido em duas parcelas, com a primeira de R$ 1.000 a ser paga em dezembro e a segunda de R$ 1.500 no início de janeiro de 2025.
A decisão de retomar o “vale peru” ocorre quase dois meses após a estatal ter alertado sobre o risco de insolvência, devido a um déficit acumulado que pode chegar a R$ 2 bilhões em 2024. O comunicado sobre o benefício foi enviado aos funcionários no dia 10 de dezembro, evidenciando uma contradição entre a necessidade de contenção de gastos e a concessão de um benefício que, embora tradicional, representa um custo significativo para a empresa.
O “vale peru” foi interrompido em 2020 durante a gestão do general Floriano Peixoto, após um acordo com os trabalhadores mediado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). A volta do benefício foi negociada em 2024 pela atual administração dos Correios, liderada por Fabiano Silva dos Santos, em conjunto com o Sindicato dos Trabalhadores na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Sintect).
Em um comunicado, os Correios afirmaram: “Vale Peru a caminho! Boa notícia para esta sexta-feira, 13! Além da segunda parcela do 13º salário, os empregados vão receber os R$ 1 mil da primeira parcela do Vale-Peru concedido pela empresa no Acordo Coletivo de Trabalho 2024/2025.” Essa declaração, no entanto, levanta questionamentos sobre a sustentabilidade financeira da estatal, que já enfrenta um dos maiores déficits de sua história.
Os problemas financeiros dos Correios se agravaram desde a chegada de Fabiano ao cargo. Em outubro, a empresa estabeleceu um teto de gastos de R$ 21,96 bilhões para o ano, com o objetivo de evitar a insolvência. O documento que formalizou essa decisão foi mantido sob sigilo, mas detalhes foram revelados posteriormente, indicando a gravidade da situação financeira da estatal.
O déficit acumulado até setembro de 2024 foi de R$ 2 bilhões, o que representa um aumento significativo em relação aos anos anteriores. Se a tendência continuar, a estatal pode superar o rombo de R$ 2,1 bilhões registrado em 2015, durante o governo de Dilma Rousseff.
Além das dificuldades financeiras, os Correios também enfrentam investigações relacionadas a manobras contábeis. Em novembro, a empresa desistiu de recorrer de uma ação trabalhista de R$ 600 milhões, optando por transferir o prejuízo para o ano anterior. O Tribunal de Contas da União (TCU) está apurando essas ações, que podem ter implicações legais para a estatal.
O presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, conhecido por sua proximidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem enfrentado pressões para implementar mudanças estruturais que possam reverter a situação financeira da empresa. No entanto, suas decisões têm gerado críticas e preocupações sobre a capacidade de recuperação da estatal.
Com a volta do “vale peru”, os Correios se encontram em uma encruzilhada, onde a tradição e a necessidade de atender os funcionários colidem com a realidade de um déficit crescente e a urgência de medidas eficazes para garantir a sustentabilidade financeira da empresa. A situação exige uma análise crítica das prioridades da gestão atual e das consequências de suas decisões para o futuro da estatal.
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