Roberto Campos Neto destaca intervenção do BC no câmbio e saída atípica de dólares
Presidente do Banco Central afirma que instituição possui reservas e atuará se necessário diante da alta do dólar.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, abordou a situação do câmbio brasileiro em uma coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira, 19 de dezembro. Ele destacou a ocorrência de uma saída atípica de dólares do país neste final de ano, o que levou a instituição a realizar intervenções no mercado cambial.
Durante a coletiva, Campos Neto reafirmou que o câmbio no Brasil é flutuante, ou seja, sua cotação varia conforme as operações do mercado. Entretanto, ele observou que a saída de recursos financeiros tem sido maior do que a média histórica, o que motivou o Banco Central a intervir com leilões de venda de dólares. “O Banco Central tem muita reserva e vai atuar se for necessário”, afirmou o presidente.
Na mesma data, o valor do dólar chegou a atingir R$ 6,30, um novo recorde, e o Banco Central realizou dois leilões, totalizando a venda de US$ 8 bilhões. Após essas operações, a moeda norte-americana recuou para R$ 6,14. Campos Neto comentou que a demanda pelos dólares foi muito superior ao esperado, o que levou à decisão de realizar uma segunda intervenção no mesmo dia.
O presidente do BC também mencionou que a saída de dólares está sendo impulsionada por pagamentos de dividendos que superam a média dos últimos anos, além de um fluxo financeiro negativo. “O fluxo de dólares está bastante negativo”, resumiu Campos Neto, ao referir-se à situação atual do mercado.
Ele enfatizou que o Banco Central não tem a intenção de proteger um nível específico de câmbio, mas sim de agir quando perceber disfuncionalidades no mercado. “Não temos nenhum desejo de proteger nenhum nível de câmbio”, reiterou. A atuação da autoridade monetária, segundo Campos Neto, é uma resposta a um fluxo financeiro que começou a registrar uma saída maior do que o habitual.
Além disso, o presidente do BC destacou que a intervenção no câmbio não está relacionada à questão da dominância fiscal, que ocorre quando a política monetária perde a capacidade de controlar a inflação. “A gente, de nenhuma forma, acha que isso é dominância”, afirmou, ressaltando que o mercado é mais amplo do que a percepção de alguns setores.
Sobre futuras intervenções, Campos Neto informou que a estratégia do Banco Central é monitorar o fluxo de dólares diariamente, sem necessariamente anunciar as operações com antecedência. Ele acredita que a próxima semana, que inclui o Natal e o Ano Novo, terá um volume menor de operações, o que pode influenciar o fluxo de dólares.
O presidente do Banco Central garantiu que a instituição continuará a acompanhar a situação do câmbio e a atuar conforme necessário. “Entendemos que, neste momento, com as fragilidades existentes e o fluxo de saída de dólares muito acima da média, o Banco Central precisa atuar da forma como está atuando”, concluiu.
Com as intervenções realizadas, o Banco Central já injetou um total de US$ 20,7 bilhões no mercado cambial, em um contexto de desconfiança em relação ao controle de gastos do governo e influências externas. A atuação da instituição se intensificou, com leilões que representam a maior intervenção em um único mês desde março de 2020.
Veja também: