Ministério Público do Trabalho resgata operários em Camaçari, Bahia, e interdita parte da construção da fábrica da montadora.
24 de Dezembro de 2024 às 09h54

Interdição de obra da BYD no Brasil após resgate de 163 trabalhadores em condições precárias

Ministério Público do Trabalho resgata operários em Camaçari, Bahia, e interdita parte da construção da fábrica da montadora.

A construção de uma nova fábrica da montadora chinesa BYD, localizada em Camaçari, na Bahia, foi parcialmente interditada nesta segunda-feira (23/12) após a intervenção do Ministério Público do Trabalho (MPT-BA). A ação ocorreu após o resgate de 163 trabalhadores que estavam em condições análogas à escravidão, segundo informações do MPT.

O embargo foi comunicado à BYD e à Jinjiang Group, uma das empreiteiras envolvidas no projeto. A nova unidade, que deverá produzir carros elétricos e híbridos, está sendo erguida na área da antiga fábrica da Ford, com um investimento estimado em mais de R$ 5,5 bilhões e apoio do governo baiano. As obras, que começaram em março deste ano, têm previsão de conclusão para o final de 2025.

A força-tarefa que atuou na fiscalização da obra é composta por diversos órgãos, incluindo o MPT, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a Defensoria Pública da União (DPU), a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF).

Os fiscais relataram um “quadro alarmante de precariedade” nas condições de alojamento dos trabalhadores. Em um dos locais, os operários dormiam em camas sem colchões e compartilhavam um único banheiro com 31 pessoas. Além disso, foram encontrados alimentos armazenados em locais insalubres, próximos a banheiros em condições inadequadas.

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No canteiro de obras, cerca de 600 trabalhadores tinham acesso a apenas oito banheiros químicos, que estavam em estado deplorável, sem papel higiênico, água ou manutenção adequada. Os operários também estavam expostos a intensa radiação solar, apresentando sinais visíveis de danos à pele. O MPT-BA registrou diversos acidentes de trabalho, incluindo um incidente em que um trabalhador sofreu um acidente devido à privação de sono provocada pelas condições inadequadas de alojamento e longas jornadas de trabalho.

Além das condições de trabalho, o MPT-BA apontou que os trabalhadores enfrentavam uma jornada de dez horas diárias, sem folgas regulares. Eles eram obrigados a pagar caução e tinham 60% de seus salários retidos, recebendo apenas 40% em moeda chinesa. Em caso de rescisão contratual, os operários enfrentavam ônus excessivo e tinham seus passaportes retidos pela empresa. Caso decidissem se demitir, perderiam o valor da caução e a parte retida do salário, além de arcar com os custos das passagens de ida e volta.

“Para se ter uma ideia, um trabalhador que tentasse rescindir o contrato após seis meses deixaria o país sem receber efetivamente nada pelo seu trabalho, já que os descontos da caução, da passagem de vinda ao Brasil e o pagamento da passagem de retorno configurariam o confisco total dos valores recebidos ao longo da relação de trabalho”, afirmou o MPT-BA.

Os alojamentos e canteiros de obras embargados só serão liberados após a regularização das condições de trabalho junto aos órgãos da força-tarefa. Uma audiência entre o Ministério Público, o Ministério do Trabalho, a BYD e a Jinjiang está agendada para esta quinta-feira (26/12), onde as empresas poderão discutir as condições para regularizar a obra.

Em nota divulgada à imprensa, a BYD Auto do Brasil afirmou que não tolera desrespeito à legislação brasileira e à dignidade humana, prometendo rescindir imediatamente o contrato com a Jinjiang e garantir os direitos trabalhistas dos operários terceirizados.

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