BYD encerra contrato com construtora após resgate de 163 trabalhadores na Bahia
A montadora tomou a decisão após denúncia de condições análogas à escravidão em suas obras
A montadora de veículos elétricos BYD anunciou a rescisão do contrato com a construtora Jinjiang Construction Brazil Ltda, após uma operação realizada por uma força-tarefa do Ministério Público do Trabalho (MPT) que resultou no resgate de 163 trabalhadores em condições análogas à escravidão nas obras da nova fábrica da empresa em Camaçari, na Bahia.
A decisão foi tomada na sequência de uma série de inspeções que revelaram situações alarmantes nos alojamentos dos operários. De acordo com o MPT, as condições de trabalho eram extremamente precárias, com relatos de jornadas exaustivas que ultrapassavam os limites legais, ausência de períodos de descanso e retenção de até 60% dos salários dos trabalhadores.
Os fiscais do trabalho constataram que os alojamentos não possuíam separação de gênero nos banheiros, além de não haver armários para a guarda de pertences pessoais. A situação foi classificada como degradante, levando à interdição de quatro alojamentos e à determinação de que os trabalhadores fossem transferidos para hotéis na região.
Em nota oficial, a BYD reafirmou seu compromisso com a legislação brasileira e a dignidade humana, afirmando que não tolera desrespeitos às leis trabalhistas. “Diante disso, a companhia decidiu encerrar imediatamente o contrato com a empreiteira para a realização de parte da obra na fábrica de Camaçari e estuda outras medidas cabíveis”, declarou a empresa.
Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da BYD Brasil, destacou que a empresa está colaborando com as autoridades desde o início das investigações e que os direitos dos trabalhadores da construtora não serão prejudicados. “A BYD Auto do Brasil reitera seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, em especial no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores”, afirmou Baldy.
A força-tarefa que atuou na operação foi composta por representantes do MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU), Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF). Uma audiência virtual entre as partes envolvidas está marcada para o dia 26 de dezembro, onde serão discutidas as providências necessárias para garantir condições mínimas de trabalho e alojamento.
A nova fábrica da BYD, que representa um investimento de R$ 6,5 bilhões no Brasil, foi anunciada há menos de um ano e visa fortalecer a presença da montadora no mercado nacional de veículos elétricos. A empresa, que já opera há uma década no Brasil, tem como prioridade a ética e o respeito aos direitos dos trabalhadores.
O caso gerou repercussão significativa, levantando questões sobre as práticas de trabalho em empresas terceirizadas e a responsabilidade das montadoras em garantir condições dignas para seus colaboradores. A BYD, que já havia afastado gestores acusados de abusos, agora se vê sob a pressão de garantir que suas operações estejam em conformidade com as normas trabalhistas brasileiras.
O MPT não descarta a realização de novas inspeções nas obras da BYD, a fim de assegurar que as irregularidades sejam corrigidas e que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados. A situação evidencia a necessidade de um acompanhamento rigoroso das condições de trabalho nas obras de grandes empreendimentos no país.
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