Governadores criticam decreto de Lula sobre uso da força policial como chantagem
Ronaldo Caiado (GO) e Ibaneis Rocha (DF) reagem a medidas que condicionam repasses federais a adesão às novas regras
Governadores de estados brasileiros manifestaram forte oposição ao decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que regulamenta o uso da força policial. O documento, publicado no dia 24 de outubro, estabelece que a utilização de armas de fogo deve ser considerada apenas como último recurso, gerando críticas contundentes de líderes estaduais, especialmente de Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás, e Ibaneis Rocha (MDB), governador do Distrito Federal.
Caiado, em suas declarações, descreveu o decreto como um "presente de Natal para o crime organizado", alegando que a nova norma oferece mais liberdade de ação aos criminosos e restringe a atuação das forças policiais. Ele afirmou que a medida é uma "chantagem explícita" contra os estados, já que condiciona o acesso a fundos de segurança pública ao cumprimento das diretrizes estabelecidas pelo governo federal.
“O decreto impõe aos estados que, caso não sigam as diretrizes do governo do PT para a segurança pública, perderão acesso aos fundos de segurança e penitenciário. Isso é uma chantagem explícita contra os estados”, afirmou Caiado em suas redes sociais. O governador também criticou a abordagem do governo, que, segundo ele, foca apenas em crimes de menor potencial ofensivo, como furtos, ignorando a gravidade da violência enfrentada no Brasil.
Em uma análise mais ampla, Caiado destacou que a realidade brasileira é marcada por "narcotraficantes violentos, equipados com um vasto arsenal", que travam uma verdadeira guerra contra o Estado democrático de direito. Ele enfatizou que o governo federal, ao invés de fortalecer a segurança pública, parece estar contribuindo para o enfraquecimento dos mecanismos de defesa da sociedade.
Ibaneis Rocha também se manifestou contra o decreto, classificando-o como uma "interferência total" nas atribuições dos estados. O governador do DF argumentou que as normas estabelecidas pelo governo federal são inconstitucionais, pois ferem o artigo 144 da Constituição, que define as responsabilidades das unidades da federação em relação às forças de segurança.
“Uma pena que o governo federal, ou melhor, o presidente Lula, não saiba seu espaço. Quem faz segurança pública são os estados”, disse Ibaneis em entrevista. Ele também criticou a proposta de emenda à Constituição (PEC) que visa aumentar a atuação da União na área de segurança pública, afirmando que isso compromete a autonomia dos estados.
O decreto estabelece que a força letal só deve ser utilizada em situações extremas, e proíbe o uso de armas contra pessoas desarmadas em fuga ou contra veículos que desrespeitem bloqueios policiais. Essa abordagem, segundo os governadores, pode levar a uma maior insegurança, uma vez que limita a capacidade de resposta das forças policiais em situações de risco.
Além das críticas de Caiado e Ibaneis, outros governadores de oposição também se manifestaram contra o decreto, destacando a necessidade de uma abordagem mais eficaz para enfrentar a crescente criminalidade no país. A insatisfação com as medidas do governo federal reflete um clima de tensão entre os estados e a União, especialmente em um momento em que a segurança pública é uma das principais preocupações da população.
O governo federal, por sua vez, defende que as novas diretrizes visam uma atuação policial mais consciente e responsável, priorizando a comunicação e a negociação em situações de conflito. No entanto, a resistência dos governadores sugere que a implementação do decreto poderá enfrentar desafios significativos, especialmente em um cenário onde a colaboração entre os diferentes níveis de governo é essencial para o fortalecimento da segurança pública.
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