MST apoia posse de Maduro em motociata, ignorando a ditadura na Venezuela
Comitiva do MST participa de evento em Caracas, enquanto Maduro é criticado por fraudes eleitorais.
A comitiva do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) esteve presente em Caracas, na Venezuela, para apoiar a posse do presidente Nicolás Maduro, amplamente criticado por sua gestão autoritária e por fraudes eleitorais. O evento, que ocorreu nesta quarta-feira, foi marcado por uma motociata chamada de “grande caravana”, que percorreu o trajeto entre o bairro de Petare e o Palácio de Miraflores, sede da Presidência venezuelana.
O MST, que enviou uma delegação de cinco integrantes, incluindo João Pedro Stédile, um dos fundadores do movimento, recebeu um convite direto de Maduro para participar do ato. A presença do MST na Venezuela gerou controvérsias, especialmente considerando o histórico de repressão e violações de direitos humanos no país sob o governo de Maduro.
Durante a motociata, os participantes expressaram apoio ao governo de Maduro, que tem sido alvo de críticas internacionais por sua postura autoritária. A comitiva do MST também assinou uma carta solicitando que o governo brasileiro reconheça a “legitimidade” da posse de Maduro, enfatizando a importância do respeito à soberania venezuelana.
O documento destaca que “o reconhecimento dessa eleição não apenas reafirma nosso compromisso com o respeito à soberania venezuelana, mas também fortalece os laços de amizade e cooperação que historicamente unem nossas duas nações”. No entanto, essa posição contrasta com as preocupações levantadas sobre a falta de transparência no processo eleitoral na Venezuela.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao abordar a questão, enfatizou a necessidade de diálogo e entendimento entre governo e oposição, afirmando que o respeito pela soberania popular exige a defesa da transparência dos resultados. No entanto, a participação do MST em um evento que celebra a posse de um líder acusado de ser um ditador levanta questões sobre a postura do movimento em relação à democracia e aos direitos humanos.
João Pedro Stédile, por sua vez, defendeu Maduro, alegando que a Venezuela realizou 30 eleições nos últimos 25 anos, desafiando a narrativa de que o país não possui democracia. “Vão ficar nesse discurso de fraude, de que não tem democracia”, afirmou Stédile, ignorando as evidências de repressão e manipulação eleitoral que caracterizam o governo de Maduro.
A presença do MST na posse de Maduro gerou reações negativas entre os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que criticaram a aliança do movimento com um governo considerado autoritário. O ex-ministro e senador Rogério Marinho ironizou a situação, chamando o governo venezuelano de “democracia relativa”.
Além disso, o deputado federal Nikolas Ferreira fez uma associação entre a participação do MST na motociata e os ataques antidemocráticos ocorridos em 8 de janeiro de 2023, sugerindo que aqueles que acusam os outros de golpistas e antidemocráticos não têm moral para fazê-lo.
A situação na Venezuela continua a ser um tema polêmico, especialmente à luz das recentes eleições e do apoio de movimentos sociais brasileiros ao governo de Maduro. O MST, ao se alinhar com um regime amplamente criticado por sua falta de democracia e respeito aos direitos humanos, coloca-se em uma posição delicada no cenário político brasileiro.
O apoio do MST a Maduro, em meio a um contexto de repressão e autoritarismo, levanta questões sobre a responsabilidade dos movimentos sociais em relação à defesa da democracia e dos direitos humanos na América Latina. A relação entre Brasil e Venezuela, marcada por laços históricos, agora é permeada por tensões e divergências sobre a legitimidade dos governos e a proteção dos direitos fundamentais.
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