Alice, brasileira sem documentos, busca garantir cidadania para sua filha nascida nos EUA após nova ordem executiva de Trump.
23 de Janeiro de 2025 às 08h16

Imigrante brasileira processa governo dos EUA após ordem de Trump sobre cidadania

Alice, brasileira sem documentos, busca garantir cidadania para sua filha nascida nos EUA após nova ordem executiva de Trump.

A brasileira Alice*, que vive nos Estados Unidos há quase 11 anos, expressou sua preocupação após a assinatura de uma ordem executiva pelo presidente Donald Trump, que retira o direito à cidadania americana para bebês nascidos em território americano, filhos de imigrantes indocumentados ou temporários. A medida, que foi uma das promessas de campanha de Trump, foi assinada no primeiro dia de seu governo, em 20 de janeiro.

Alice, que atravessou o Rio Grande em busca de uma nova vida, está grávida de sete meses e espera o nascimento de sua segunda filha em abril. Sua primeira filha, nascida em Boston, já possui cidadania americana e passaporte brasileiro. A nova ordem gera incertezas, pois, caso a medida se mantenha, a recém-nascida não teria direito à cidadania.

“Acho que ele (Trump) voltou com muito mais ódio, basta ver a quantidade de coisas contra os migrantes que ele está fazendo. Apenas uma pessoa com muito ódio para fazer uma maldade dessas”, afirmou Alice, referindo-se à ordem executiva e outras políticas de imigração que têm sido implementadas pelo governo Trump.

A imigrante já consultou três advogados sobre sua situação e revelou que nunca teve coragem de regularizar sua condição por medo de deportação. Contudo, ela está determinada a processar o governo dos EUA caso sua filha nasça sem o direito à cidadania. “Se por acaso essa ordem executiva realmente for adiante, eu processo o Estado, processo o governo federal”, disse.

Alice, que coordena uma equipe de limpeza doméstica e cujo marido possui uma construtora, afirma que a renda mensal da família é de cerca de US$ 20 mil (aproximadamente R$ 120 mil). Apesar de sua condição irregular, ela se considera uma cidadã responsável, que paga impostos e busca a legalização.

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O impacto da ordem executiva de Trump é significativo, pois a medida visa cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados e 3 milhões com vistos temporários. A revogação do direito à cidadania por nascimento é uma questão que Trump já havia tentado implementar em seu primeiro mandato, mas não encontrou um caminho jurídico viável na época.

Atualmente, 22 estados americanos, incluindo Nova York, Califórnia e Massachusetts, onde Alice reside, já entraram com ações judiciais para contestar a constitucionalidade da nova ordem. Organizações da sociedade civil, como a União Americana para Liberdades Civis (ACLU) e a brasileira Brazilian Worker Center, também se mobilizaram contra a medida.

A argumentação central dos estados e das ONGs é que a ordem de Trump viola direitos garantidos pela Constituição, especialmente a 14ª Emenda, que assegura que “todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à sua jurisdição, são cidadãos dos Estados Unidos”. Essa emenda foi criada para garantir os direitos dos cidadãos após a Guerra Civil.

Os críticos da ordem executiva argumentam que a interpretação de Trump sobre a Constituição é incorreta e que a medida pode criar uma insegurança jurídica sem precedentes. Alice se preocupa com o futuro da sua filha e com a possibilidade de que a decisão da Suprema Corte possa retroceder os direitos de cidadania de milhões de pessoas.

“O que me preocupa é isso, que a Suprema Corte tem mudado a forma de interpretar as leis”, disse Alice, expressando sua apreensão sobre o impacto da decisão judicial. “Eu me surpreenderia muito se os tribunais estivessem dispostos a retirar a cidadania de pessoas que efetivamente a mantiveram durante toda a vida”, afirmou Sam Erman, professor de Direito da Universidade de Michigan.

Enquanto o debate jurídico se intensifica, Alice continua sua luta por justiça e pelo direito de sua filha à cidadania americana, refletindo a realidade de muitos imigrantes que buscam segurança e estabilidade em um país que se tornou seu lar.

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