Produtos como pó à base de café e compostos lácteos imitam alimentos tradicionais, mas podem prejudicar a saúde dos consumidores.
16 de Março de 2025 às 10h33

Alimentos fakes: riscos à saúde e como identificá-los nas prateleiras

Produtos como pó à base de café e compostos lácteos imitam alimentos tradicionais, mas podem prejudicar a saúde dos consumidores.

A crescente alta nos preços dos alimentos, impulsionada por crises econômicas e mudanças climáticas, tem levado indústrias a buscar alternativas para reduzir custos, resultando no aumento da oferta de produtos que imitam os originais. Esses produtos, conhecidos como "alimentos fakes", são elaborados com ingredientes mais baratos e com alto teor de aditivos, o que pode passar despercebido pelos consumidores desavisados.

Recentemente, o "pó para preparo de bebida à base de café", apelidado de "cafake", ganhou notoriedade nas redes sociais. Em resposta, a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) emitiu um alerta aos supermercados e varejistas sobre a irregularidade do comércio de misturas ilegais, recomendando que a população evite o consumo desses produtos devido aos riscos à saúde.

Além do café, outros produtos como compostos lácteos, que imitam o leite, e bebidas lácteas que se assemelham ao iogurte, também estão disponíveis em diversos pontos de venda. Esses alimentos, muitas vezes classificados como ultraprocessados, apresentam composições de qualidade inferior.

Amanda da Silva Franco, professora adjunta do Departamento de Nutrição Social do Instituto de Nutrição da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), explica que "o principal problema está na composição desses produtos, que geralmente são de qualidade inferior e, muitas vezes, classificados como alimentos ultraprocessados". Ela também destaca que muitos deles contêm gorduras vegetais hidrogenadas, que são fontes de gorduras trans, associadas ao aumento do risco de doenças cardiovasculares.

Os consumidores devem estar atentos às embalagens nos supermercados, pois produtos com rótulos semelhantes podem induzir ao erro. Para evitar a compra de produtos que não correspondem às expectativas, é fundamental se familiarizar com a lista de ingredientes. Elementos como açúcar, amido modificado, gordura vegetal e aditivos como aromatizantes ou espessantes indicam que o alimento é ultraprocessado.

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No caso do café, misturas que incluem cereais ou milho torrado podem ser indícios de um produto falso. O café solúvel, por exemplo, é feito a partir do café puro, que passa por um processo de desidratação para se transformar em pó ou grânulos. As misturas costumam ser mais baratas e têm um sabor semelhante ao café, mas com uma concentração de cafeína inferior.

"Evite produtos que contenham termos como ‘bebida à base de café’ ou ‘pó sabor café’, pois esses podem não ser compostos exclusivamente por grãos de café", alerta Silva Franco. Pavel Cardoso, presidente da ABIC, reforça a importância de verificar a certificação ao adquirir café e alerta sobre a desconfiança em relação a preços muito baixos, que podem ser indícios de fraude.

Com relação ao leite, é importante notar que a bebida láctea mistura leite com soro, açúcares e espessantes, alterando a composição e reduzindo o teor de cálcio e proteínas. Isso a torna mais barata, mas com menos nutrientes do que a bebida pura. Adriane Kulibaba, nutricionista clínica do Hospital Angelina Caron, em Curitiba, explica que o leite em pó deve conter apenas leite, enquanto os compostos lácteos em pó podem incluir outros ingredientes como soro de leite em pó e aditivos.

Os riscos à saúde associados ao consumo frequente de alimentos ultraprocessados e fakes são significativos, especialmente para grupos vulneráveis como crianças, idosos e pessoas com menor poder aquisitivo. Esses produtos, ricos em açúcares, gorduras, sódio e aditivos, podem comprometer a absorção de nutrientes essenciais e favorecer o desenvolvimento de doenças crônicas.

O consumo excessivo de açúcar, por exemplo, está associado ao aumento da obesidade infantil e resistência à insulina. Além disso, alguns aditivos podem afetar o comportamento, contribuindo para quadros de hiperatividade. Para os idosos, a redução da capacidade de absorção de nutrientes torna essencial a ingestão de alimentos ricos em proteínas e minerais, e produtos de qualidade inferior podem impactar negativamente a saúde óssea e cardiovascular.

Por último, é importante ressaltar que existem alternativas naturais e seguras que podem oferecer melhor custo-benefício. Produtos como café, leite em pó e queijos podem ser mais acessíveis quando comprados em maior quantidade, a granel. Optar por marcas regionais e produtos locais também pode resultar em menor custo e maior qualidade, evitando o pagamento por embalagens e marketing.

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