
Servidores do IBGE denunciam assédio moral e retaliação após críticas à gestão
Em carta, técnicos afirmam que foram transferidos como represália a posicionamentos contrários à presidência de Marcio Pochmann.
Um grupo de servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma carta aberta nesta quinta-feira, 27, em que se declara vítima de "retaliação e assédio moral". Os técnicos, que atuam nas gerências de Sistematização de Conteúdos Informacionais (GECOI) e de Edição (GEDI), relatam ter sido transferidos de um prédio na região do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro, para um antigo parque gráfico do IBGE em Parada de Lucas, uma área cercada por comunidades com histórico de violência.
Os servidores acreditam que a mudança de local de trabalho foi uma retaliação a críticas públicas que fizeram sobre atos da gestão de Marcio Pochmann, atual presidente do IBGE. Em janeiro, o grupo havia emitido uma nota de repúdio à decisão da direção de incluir um prefácio assinado pela governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, em uma publicação oficial do instituto, o que poderia ser interpretado como "propaganda política".
A carta, assinada por 11 servidores, destaca que a transferência para Parada de Lucas foi justificada por um "insólito argumento" de que a proximidade com os serviços gráficos da região seria necessária. No entanto, os trabalhadores argumentam que não há justificativa técnica para essa mudança, uma vez que suas atividades são realizadas de forma digital.
Os servidores também mencionam que a mudança representa um risco à segurança, já que a nova localização está próxima a áreas dominadas pelo tráfico de drogas. "Considerando o personalismo instaurado no IBGE, que já motivou pedidos de exoneração de diretores, concluímos que a mudança é uma forma de retaliação", afirmam na carta.


Além disso, os técnicos relembram que, em janeiro de 2025, contestaram um comunicado da presidência do IBGE que desqualificava suas críticas como "desinformação e mentiras". A criação da Fundação IBGE+, proposta por Pochmann, também foi alvo de críticas e acabou sendo suspensa após polêmica.
Os servidores alertam para os riscos de quebra do princípio da impessoalidade e perda de autonomia técnica, devido à inclusão de conteúdo político em publicações do IBGE. Eles afirmam que essa situação pode afetar a qualidade do trabalho e o desempenho institucional, em desacordo com o interesse público.
A executiva nacional do sindicato de servidores do IBGE, a Assibge-SN, está acompanhando a denúncia e realizará uma assembleia na próxima semana para discutir o caso. Bruno Perez, diretor da Assibge-SN, declarou que a transferência parece desprovida de justificativa razoável e que o caso é plausível, visto que as gerências afetadas se manifestaram contra decisões da direção.
Até o fechamento desta matéria, a direção do IBGE não havia se pronunciado sobre as acusações feitas pelos servidores.
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